sábado, 31 de dezembro de 2011



decomponho
 os olhos no teu amor
e na vida que nos resta
e em toda vida que traz

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

vazio fora de época
no peito matéria
dessa ausência que
dorme na palma da mão.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011





cada dia o  cansaço
às sombras das certezas
nesse novo lugar ninguém pode sonhar
porque faltam pés
e sobram caminhos
quando nos faltam pés e
sobram caminhos por terra

não há voo, bem sabe,
não porque seja proibido voar
não porque não saibamos


mas porque é assim
quanto da resposta está em nada

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011


ansiedade de morte
 como se esparramasse erva daninha nos olhos
  e todos os caminhos se desfizessem saltos mortais
  do alto de uma formiga
Envelheceu dentro de teus olhos; eras a doçura e o extermínio e amei o teu corpo em seus frutos nocturnos.

Tua inocência é como uma faca diante de meu rosto,

mas pesas no meu coração e, como um mel escuro, sinto-te em meus lábios ao encaminhar-me para a morte.

  

antonio gamoneda, (pavana impura)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

quando era menina
deus era um desenho
no papel branco
um risco

agora,
 é o que molha meus pés
é a fábrica que conserva
as mãos ocupadas
é o medo de ficar nua

deus descresse de importância
conforme os anos

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Jan Saudek. net.


*

depois do barulho todo
os orientes
os acidentes
os olhos doces
 o vácuo transparece 
em todas as palavras que existem 
e não sei.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Jan Saudek. net.




* 
a nudez dela cobriu
os desenhos e os poemas
em transversal espelho.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

(foto - net)



delicado a Cris de Souza
(porque a cris ontem me deixou tão mais bonita na beleza dela)




*

do trem da cris
a janela
e o horizonte
que me apita


**

dessa vávula que me escapa
na vertigem vermelha
da dúvida:
 tuas perguntas são:






***
a fragilidade de te ouvir -
onde um pássaro doído
num galho fino de medroso
esqueceu das asas
para quando amanhece a imensidão
das tuas palavras
que como bolhas de sabão, despertam
sonhos. Sinto cócegas. Bato em revoada.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

organizada.

as coisas boas você
guarda aqui, nessa caixinha de cristal

as coisas ruins, nesse cesto  de vime.

e as coisas que não são nem boas nem ruins?

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

dos seios o gozo

mutilado. antes, não me deixem morrer.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011




quando me aproximo das mulheres em chama
tatuo abelhas na língua
deserto .

 o tempo que exprime
  de chegada e partida
-deserto.

o dia deitou-se
na cama do poeta
pra olhar as letras mortas na parede
 deserto.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

na boca dele – “tá, pausa, tá, pausa elevada, tá, mais uma pausa ríspida, tá...”
uma verdade sem fim
os livros empilhados os medos doutorados
e olhos com a profundeza da abelha
queria te dizer na cor deste fruto:
- “não sei onde fica a Armênia”

da ardência que escorre do nariz
enquanto não te olho
a certeza que vez ou outra ela se esquece:
que  a vida goteja um mar  (...)
e a precisão que faz os dedos, teus, alivia,
a insignificância

tradução de um poema que nunca foi escrito
(e produz folhas que serão comidas pra virar sedas)

- “só me come, amor.”

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

liberdade (drummond)

O pássaro é livre
na prisão do ar.
O espírito é livre
na prisão do corpo.
Mas livre, bem livre,
é mesmo estar morto.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011



o sol é vermelho
a 4 palmos do horizonte
depois, dissipa a cor

mechas do cabelo
de toda morte

de você que separo a cada mecha que corto
de você que visto sandálias pra me aproximar
de você uma casa abissal - água e sal.


p/ antonio.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

acredite, não há pássaros por aqui
os galhos aos montes
acenam
de tantos pousos

terça-feira, 25 de outubro de 2011

que árvore é esta de fruto
aceso?

sol abrindo  na manhã da cor

é uma pitangueira aquarelável.

pois, tudo tem nome e cor
num mundo sem perguntas.

sábado, 22 de outubro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

a mulher sentada na cadeira de área
bordava com fio de tinta
notas musicais nas pernas
quando o horizonte chegou
o som ficou suspenso no ar

uma vez tatuou o lago dos cisnes
nas costas e
nunca soube a razão

segunda-feira, 26 de setembro de 2011



passa nanquim nas bordas
nas sobras do que disse
empresta ao silêncio a tua língua
desamparada de fetos

sábado, 24 de setembro de 2011



chá de maçã com canela
e hortelã pimenta
um círculo de flores
e uma ciclame de oferenda
tem um raio batendo
na entreaberta lua
de sorriso aflorado
amor

quinta-feira, 22 de setembro de 2011




quando dizem sobre coisas dizendo sobre coisas. não são como aqueles que dizem coisas não dizendo de nada. tiram das coisas seus objetos. dando a elas flutuação. tirando da flutuação a própria ao dizer. nem não tiram as deixam  na ausência da coisa. nem só transformam A  em B. nem só nada em nada. ou coisa em coisa ou algo em algo. Nem também somente dispersão porque senão seria tirar a coisa da coisa da dispersão para ela ser sendo uma ausência. Ou uma mancha dela própria que se enche de ausências.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

 ("pessoa invisível")

ainda bem que apesar
de todo nó de sentido

frases nas esquinas
da lógica
debruçadas nas palavras
que desconheço

tenho um cansaço
igual fosse uma canção

um chão. para poder dormir.

sábado, 17 de setembro de 2011





....
do canteiro repetido
às muitas sombras
estupro a luz
que não capto

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

 gosto da desordem de um jardim esquecido. de plantas rasteiras que crescem livres porque a chuva existe e é de todos. das sombras das flores sem nomes que os  olhos não enxergam. do carrapicho que grudou em mim e me ensinou aramaico, algo que aprendi em amor. 


(11-02-11 - esta escrevi junto com a Joyce também.)

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

a rosa no canto da mesa
silencia o lugar
pra onde não te verei mais.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

troca.

tá vendo aquele pedaço de céu?
desenha ele dentro de mim
prometo que te sussurro nuvens
alaranjadas

domingo, 28 de agosto de 2011










Que este coração toscamente enxertado
Com as agruras de um patético sofrimento
Neste peito de lata batendo apertado
 Feneça em glorioso tormento
E que todas as verdades escritas sejam
 No piso frio das saudades
No acaso fatídico que elas ensejam
Na dureza febril das deslealdades
Em letras brilhantes no outdoor da praça
Ao som deste meu riso histérico, insano
Em badaladas retumbantes cheias de graça
 Do sino repicando numa igreja qualquer
Como constatação torturando ano a ano:
NÃO-TE-QUIS, NÃO-TE-QUER, NÃO-TE-QUIS, NÃO-TE-QUER.

Joyce K.
23/08/2011.

 
O sino toca
descendo as ruas mulheres vestidas de manicômio
precipitam o som
na luz do dia os pés gritam urgências
e o sino toca esquecido por aqueles que querem amor
o tempo passa
e não há maior liberdade do que não ser amada

dani carrara
28. 08.2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

as palavras coloridas
mancharam os olhos
das meninas que enxergam
a margem da lágrima
:quando lia aquele poema
a testa enrugava. o lápis desenhava caretas. 

 transformadas borboletas

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

(marta maria perez)


atirei pedras
nos ouvidos do mundo
colhi palavras polidas
sussuradas de bocas distantes

a mão pesa mais que a pedra

no sono que tenho quando
te  finjo  andar de bicicleta.


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

falta que convém
nas árvores desta rua
os galhos passam pernas
entrelaçados nos meus olhos

terça-feira, 16 de agosto de 2011

imagem net

provaremos as ilhas e o mar

sei que em alguma noite
em algum quarto
logo
meus dedos abrirão
caminho
através
de cabelos limpos e
macios


canções como as que nenhuma rádio
toca


toda a tristeza, escarnecendo
em correnteza.





reviravolta


ela dirige para a vaga no estacionamento enquanto
eu me escoro contra o pára-choque de meu carro.
ela está bêbada e seus olhos estão molhados de lágrimas:
“seu filho da puta, você trepou comigo quando não
estava a fim. Disse pra eu continuar ligando,
disse pra eu me mudar pra perto da cidade,
e então me disse pra deixar você em paz.”

tudo muito dramático e eu gostando daquilo.
“claro, bem, o que você quer?”

“quero falar com você. Quero ir pra sua
casa e falar com você...”

“estou com alguém agora. Ela foi buscar um sanduíche.”

“quero falar com você...demora um pouco pra superar as coisas. Preciso de mais tempo.”
“claro. Espere até que ela saia. Não somos desumanos. Podemos tomar um drinque juntos.”

“merda” ela disse, “oh, merda!”

pulou dentro do carro e arrancou.

a outra apareceu: “quem era aquela?”

“uma ex-amiga.”

agora ela se foi e estou aqui sentado e bêbado
e meus olhos parecem molhados de lágrimas.
está tudo muito silencioso e sinto como se um arpão
estivesse atravessado no meio das minhas tripas.

caminho até o banheiro e vomito.

piedade, eu penso. Será que a raça humana não sabe nada
sobre piedade?


um poema quase feito



Eu vejo você bebendo numa fonte com suas
minúsculas mãos azuis, não, suas mãos não são minúsculas
elas são pequenas e a fonte é na França
de onde você me escreveu aquela última carta e
eu respondi e nunca mais obtive retorno.

você costumava escrever poemas insanos sobre
ANJOS E DEUS, tudo em caixa alta, e você
conhecia artistas famosos e muitos deles
eram seus amantes, e eu escrevia de volta, está tudo bem,
vá em frente, entre na vida deles, não sou ciumento
porque nós nem nos conhecemos. estivemos perto uma
 [vez em
New Orleans, metade de uma quadra, mas nunca nos
[encontramos,
nunca um contato. assim você seguiu com os famosos,
[escreveu
sobre os famosos, e, claro, descobriu que os famosos
estavam preocupados com a fama deles - não com a jovem e
bela garota em suas camas, que lhes dava aquilo, e
[que acordava
de manhã para escrever em caixa alta poemas sobre
ANJOS E DEUS. nós sabemos que Deus está morto, eles nos
[disseram,
mas ao ouvi-la eu já não tinha tanta certeza. talvez
fosse a caixa alta. você era uma das melhores poetas e eu
disse para os editores, "publiquem-na, publiquem-na,
[ela é louca, mas é
mágica. não há mentira em seu fogo". eu te amei
como um homem ama uma mulher que jamais tocou,
[para
quem apenas
escreveu, de quem manteve algumas fotografias. eu poderia
[ter te
amado mais se eu tivesse sentado numa pequena sala
[enrolando um
cigarro e ouvindo você mijar no banheiro,
mas isso não aconteceu. suas cartas ficaram mais tristes.
seus amantes te traíram. criança, escrevi de volta, todos os
amantes traem. isso não ajudou. você disse
que tinha um banco em que ia chorar e que ficava numa
[ponte
 e a ponte ficava sobre um rio e você sentava no seu banco de
[chorar
todas as noites e descia o pranto pelos amantes que
te machucaram e te esqueceram. escrevi de volta mas não
[obtive
qualquer retorno. um amigo me escreveu contando do seu
[suicídio
3 ou 4 meses depois de consumado. se eu tivesse te
[conhecido
 provavelmente teria sido injusto com você e você
comigo. foi mesmo melhor assim.

Charles Bukowisk.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

(Raquel, 2011)





no vazio da alma
contemplo borboletas
enquanto desenho no seu rosto

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

é preciso jogar tudo fora
começou pela saliência na nuca
estranha


a mim fora.

não deveria escrever em dias quentes
as tintas suam.
fui comprar travesseiro,
(pra ver se melhora as dores nas costas)
fiquei perdida no meio dos cílios
domésticos, úteis.
estou sem vontade de nada
sinto alguém puxando meu pescoço
arrancando
com as mãos
engraçado que quando
duas semanas

tenho pouca força
ainda espirro



domingo, 31 de julho de 2011

“o mundo e o eu, a luz e o fogo, distinguem-se nitidamente e, apesar disso, nunca se tornam definitivamente alheios um ao outro, porque o fogo é a alma de toda a luz e todo o fogo se veste de luz. Assim não há um único ato da alma que não adquira plena significação e não venha a finalizar nesta dualidade: perfeito no seu sentido e perfeito para os sentidos: perfeito porque o seu agir se destaca dela e porque, tornado autônomo encontra o seu próprio sentido e o traça como que em círculo à sua volta.”

*lukács, 1962, p. 27

sexta-feira, 29 de julho de 2011

o amarelo desenha flores
no horizonte que me atravessa

pra chegar na casa aonde moro

um silêncio é dito nas luzes
da madrugada

- ouço.

terça-feira, 26 de julho de 2011

a cigana, de saias longas,

longas,

me sorri ouro.


arranca da linha
(presa na garganta)
como quem prevê passados
arranca alinha
um voo.

no emaranhado de linhas
a mão existe:
pouso.

sábado, 23 de julho de 2011

quarta-feira, 20 de julho de 2011

poema para o pedro ler daqui 20 anos -

filho,

os anos, entrados,
vividos
me ensinaram a amar o tempo
e a significar o silêncio.



ps. parabéns, sempre. (e não vou esquecer da chuteira de futebol de salão, sem cravos (flor?), de qualquer cor, menos rosa - (flor?). rs. amo você.

(hoje o pedro faz 12 anos.)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

os olhos adoecem
quando vejo a manhã
pelos cantos da casa.

fecho nos olhos
um aperto
até ouvir um estrondo
com compressas de mel
pra tudo ficar bem.

na língua algo suave
que guardei
qualquer pouso de você.

sábado, 9 de julho de 2011

é tarde
chiado da madrugada
peito aberto.
travo com fogo
duas vestes
nenhuma raiz
(tem tantas verdades ocupando a tarde e o pôr-do-sol)

segunda-feira, 4 de julho de 2011

na casa o que mais machuca
é o som das paredes
a suspirar.
no choro o que mais preciso
é o fino das paredes
a transpassar

das estradas o que restam
são:
1. o cansaço dos pés;
2. o que esqueci no encanto do sono;
3. a leveza da vida que respira no corpo;
4 e, por fim, aqueles lacinhos feitos de lã, que hoje servem de chaveiro esquecido (junto a chave que você ainda olha, pendurada na sala daquela casa velha,)

sexta-feira, 1 de julho de 2011


tem dia que a gente acorda com o nosso coração inteiro.


(na foto: eu e a isabelli, local: assentamento, milton santos)

terça-feira, 28 de junho de 2011



desde que começou nascer gente dentro dela nunca mais ela foi uma mesma.

segunda-feira, 27 de junho de 2011



A ideia se desfez, nas unhas,
mas continua vermelha, de uma flor aveludada, tecida por dentes, 
foi nela que plantei os fragmentos da história, flor-de-sangue, mato crescido, história-não-vivida, no pedaço de vida –  diluída. 
o corpo tem luz nas tuas vestes.
Ouço na água levada pela fonte: emanada; 
esquecida: 
que o amor é esquecimento.

domingo, 26 de junho de 2011

 porque sumiremos todos na mão da parteira.
se você esquecesse a caneta, diria o nome. soletrada a nossa sílaba, esguio, no corpo de uma enguia,


não consigo traduzir aquilo que procuro, marco horas e um tempo pra chegar na antevéspera da vida,

pra ser um dia, além de um dia, este verbo que inventamos, para o encontro que foi às flores

guardei com sal e calor o amor

é véspera, me arrumo, e ainda é noite

quando recolhe a história, sussurro o cheiro da flor no teu nome. os ouvidos apelam pro tempo.

terça-feira, 21 de junho de 2011

duas mulheres grávidas se encontraram nas margens de um rio
uma olhou pra outra
e no mesmo instante, disseram:

"que flor é esta aberta no teu umbigo?"

segunda-feira, 20 de junho de 2011

E agora o que fazer com essa manhã desabrochada a pássaros?
Manoel de Barros

quinta-feira, 16 de junho de 2011

boa tarde, meninas (...) 


envio o que escrevi  da minha experiência com as crianças e adolescentes na oficina.

e pensei, já que é mais fácil qdo estou em contato com eles, em dar ênfase em cada mês no relatório
selecionando assim a produção deles na oficina

enfatizando o olhar das crianças e adolescentes
eles escrevendo o relatório

que acham?

, um beijo,


22-03-11


produção do gabriel
 agora sim

Oficina de desenho: “Eu não sei desenhar direito”

No dia 22 de março participei de uma oficina de artesanato com crianças no projeto social tal. Como sempre acontece na roda de conversa do dia, as crianças e adolescentes decidiram qual atividade gostariam de participar. Normalmente é colocada na roda as atividades do dia programadas pelos educadores, que relacionam para a escolha das crianças. As atividades são culturais e esportivas, neste dia foram convidadas para: assistir a um filme, participar da oficina de artesanato, do teatro, e do futebol.

Um dos adolescentes optou pelo artesanato, cheguei um pouco depois, e, ele já estava sentado colorindo um desenho impresso. As aulas de artesanato têm como proposta atividades fechadas e livres de desenho e pintura.

Contei para ele qual era a minha idéia para este dia na aula de artesanato, pois em geral são outros educadores que conduzem esta atividade. E convidei-o a pensar  desenhos que fazemos mentalmente. Mas mesmo assim disse que ele estava livre para continuar a colorir se quisesse. Ele topou mudar o rumo do estava fazendo.  Neste momento foi chegando mais crianças e adolescentes, ao final da atividade foram produzidos 14 desenhos. Quando convidava para atividade eles diziam que não sabiam desenhar direito, que ficava muito feio, então, começamos a conversar sobre o que é “feio”, sobre o que pensamos ser “direito”. Fazendo os desenhos, trabalhando com as mãos, inventando histórias, e conversando sobre coisas comuns do dia-dia: o tráfico, e, atuação dos lideres do bairro.

Agora enquanto escrevo este texto, parei por duas horas, dois dos participantes da oficina de ontem, vieram até mim e me convidaram pra desenhar. O primeiro me pediu pra me desenhar (pra posar pra ele, minhas palavras), e me desenhou, depois fez o desenho da própria imagem, o Renan tem dez anos, e ontem optou por colorir um desenho pronto,. Então sentamos no mesmo lugar com lápis e caneta,. e neste momento a Ana Paula Fernandes, uma moça aqui da comunidade, que trabalha como auxiliar de serviços gerais, se juntou para fazer flores artesanais, (me ensinou a fazer.)

Após o primeiro convite de ontem nasceu no dia seguinte outra oficina de “eu não sei desenhar direito”. O Renan já disse que amanhã quer desenhar de novo. E a Ana Paula comentou que terá que pintar guardanapos e ficamos de pensar juntas como faremos para ilustrar os guardanapos. Olhamos na internet obras de pintores famosos: Frida Kahlo, Van gogh, Marc Chagal, ela se interessou muito pela Frida. (aliás, a Paula me levou o filme da Frida e um livro que tinha. Enquanto isso os guardanapos estão branquinhos) Fizemos uma “oficina de artesanato” no improviso, e surgiu uma nova idéia no momento em que nos concentrávamos no trabalho manual.

O propósito do texto se ampliou, pois a princípio a idéia era somente relatar a atividade, mas como aconteceu concomitante ao texto um novo evento, resolvi relatar também. E percebo que quando estamos fazendo a atividade a interação é maior e o convívio se beneficia.

Após a conversa com a Paula acabou por nascer também a próxima “oficina de artesã-nato.   (o pintor pensado foi : Paul Klee, ideia da paula)




05.11.99

é porque as palavras não dizem nada.
Às vezes a entonação delas alguma coisa
mas em geral existe um silêncio maior

tem uma força embutida na força na hora de se tocar,
igual nas linhas
um desafino
em relação aos dedos e as palavras que me diz.

entre uma coisa e outra eu te acho. Às vezes parece que é o tempo, outras o espaçamento,

só sei que se condensa ao que sou.


07.06.2010.

Depois da tentativa frustrada de receber verbas pro projeto com os meninos de rua 

Saí do bairro com vocês dois na cabeça. (enquanto olhava pelo retrovisor – duas crianças sendo revistadas pela polícia, - desde janeiro deste ano a polícia está mais presente, não raro vejo carros sobre as calçadas e adolescentes sendo perseguidos nas ruas , o município agora tem uma secretaria de segurança pública - na esquina, na tarde de quarta feira dia 07.06.10, com o sol alto.)
 o fato é; neste bairro os fios elétricos revelam: há crianças nas ruas. - tem pipas presas, penduradas nos postes, sapatos e outros objetos...

Minutos antes ele foi me abraçar. Era só despedida, eu disse. Ele encostou o nariz no meu ombro me levando pra dentro dele.



a alma naquele território
a quele que o rio não corta,
o quilombo,
naquele onde metade, das gentes, sabe que está em guerra
e a outra finge que não sabe.



quarta-feira, 15 de junho de 2011

estou cansada. talvez esperar amanhã seja o melhor dia.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

é tão distante de mim
(tá, sonho com a umidade da tua pele)
enquanto tomo banho a água que escorre
leva com ela o escorpião transparente
através dos meus pés.
enquanto fico ao teu lado
um escorpião desce 
pelas pernas
enquanto isso umedece por outra razão

segunda-feira, 6 de junho de 2011




as unhas sujas
aumentam as formas
enquanto as árvores silenciam
meu cabelo cresce
amanheci mais gorda
gorda de tudo que em mim farto.



terça-feira, 31 de maio de 2011

ganhei uma pulseira de linhas coloridas
escreve teu nome?
não, escreva poesia.

poesia.

isso. peço toda hora pra que não volte. é muita poesia pra mim.

peço toda hora pra que não apareça. é muita poesia pra mim.

aqui poesia é um nome em uma pulseira que ganho de linhas

ela escreveu as linhas olhou da ponte as pedras
a ponte é bonita

água viva um afronte às pedras; ela é água.

antes de ir até a ponte

todas as palavras que ele não disse
ficaram condensadas na friagem do peito dela
 era tarde, mas manhã. ela não pensou em nada. na friagem do peito que era manhã.

quarta-feira, 25 de maio de 2011


 (miró).

Antes
                   a Eva Durrell
bosque musical

os pássaros desenhavam em meus olhos
pequenas jaulas


 (Alejandra Pizarnik)

terça-feira, 24 de maio de 2011

eu nunca sei que roupa usar pra sair, ainda mais de terça-feira; ainda mais que meu nariz sangrou hoje (...) ainda mais,


e ainda mais.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

entender os números
a ordem do tempo
a matemática da vida
aquele mais um amanhecer
aquela mais uma alegria
aquela mais uma tristeza

e a ordem do tempo
 num instante

- a pronúncia daquela palavra distante

que traz o teu corpo pra mim

a mentira que habita a tristeza
do que olho da janela.

(e nenhuma mais palavra vai sair da minha boca)

tanto faz tristeza e alegria: te escapo um sorriso.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

segunda-feira, 9 de maio de 2011

a violeta de Ana
 ganhou um suporte de vidro hoje
a violeta de Ana, chama-se: Daniela.

da explicação sobre o que eu escrevo:
tem 3 meses eu levei uma violeta pra Ana

Ana não sabia a diferença entre rosa e vermelho,
mas pintava flores.
mas era proibido cuidar das flores no hospital psiquiátrico

então cuidei pra ela.
quando saiu de lá, entreguei a violeta à Ana.

e hoje Ana comprou um vaso  transparente (...)

sábado, 7 de maio de 2011

é a irmã da avó
aquilo que olho da minha distância

neste ciclo  que vasa

vertigem.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

gritam tanto os dois
que o chiado terminal
fere o silêncio
se dividem em tantas vezes

e pisam no homem que dorme ao lado,
na sarjeta.

depois teorizam sobre o amor
(é o que resta)

em grandes livros de capa-dura.

domingo, 1 de maio de 2011

sentei, pedi um café
ele me vendeu três versos
e aí, o poema ficou sem fim

o café sem açúcar e caro
e o poema sem fim
passaram a noite andando por mim

(guarde na caixa transparente
as palavras amanhecidas)

- depois, deixe-as até amarelecer
(me beije enquanto isso)
pra inventar o tempo
e apareça por aqui
apareça por aqui.

terça-feira, 26 de abril de 2011

de tantos plurais. margens.

hoje de tudo que quero
é só uma música
um aquele beijo
que me passou o frio
e sonos pra tantas noites
sem sonhos

domingo, 24 de abril de 2011

pra uma foto feia
um você na veia -
de pássaro, assentado
(...)

nas tuas mãos

sexta-feira, 22 de abril de 2011

 
tem por hora tudo no lugar
e o cachorro aqui
chegou por alguma vazão de tempo

ele carrega folhas de um cômodo para outro da casa
nos dentes, intactas
de um cômodo pro outro
- intactas
seus dentes são ventos
 e as folhas sentem outonos quando passam através das paredes.

domingo, 17 de abril de 2011


sala de casa.

a poesia quando
existir e tocar os olvidos
haverá silêncio por aqui

pintei o vaso da sala
que é verde-verde
mais que preto

esqueci o seu azul
verde-verde
pra te fazer em linhas
tingi de carvão

um desenho:
pra pegar o vaso azul-carvão
com as mãos.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

quando o lábio tocar o ouvido
e fizer silêncio por aqui
as palavras se abrirão
igual flor

segunda-feira, 11 de abril de 2011

desde o ano passado que queria marcar esta data no blog. hoje é aniversário do meu pai.


dele -, acordar com o barulho de alguém folheando um livro, na madrugada,
silenciosa de estudos.




um beijo,  pai!