domingo, 29 de agosto de 2010

desenhar até a primavera*

30.08.10


pássaro lilás

a pintura, tua
me sorri

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.
.

29.08.10

uma lilélula
de asas transparentes
me morreu
quando ainda era cinza



* hoje desenho uma árvore, vejo da janela. agora toda ela, galhos, pontas de aço. amanhã, flores delicadas, em tons...

prece

amor, estulto
silêncio, meu

desenho de yhaht.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

alecrim risca areia
aérea
ah ria,

terra: era tarde quase noite
tem nome pra isso?
quase, quase, quase

teu olho era distante
ausente
era crescida na retina

quase, quase, quase
inda e vinda em riscos

areia livre

quase, quase, quase -

forma.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

quis dizer -

deitada ontem:

- por que sempre o desvio?

concentração zero. minha vida estancada. amarelada.

quantos gritos. me calo que sou capaz de ouvir teus cílios fechando, em fúria.

pensar em que mesmo?


abrindo-se

embaralha tudo no chão da sala o prédio de domingo é:

ex -

manicômio
convento
universidade

agora é sala de ensaiar (teatro)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Pula corda, não esqueça de sair, sentido
Dor do parto, estava ocupada comigo, nem senti
Anestesia, seu pé, na minha barriga não doeu
Pula-corda, entrelaça, sem medos

leviana, cabeça.

Um, dois, três, salto, mais um.

Dói pulos. Dois pulos. Pula corda.

Te sinto no dedão do pé que vou lamber

Passa um, passa dois. Me dê sua mão. Sim crônica. Depois solta pra te sentir. O amor é longe, antes de tudo, um corpo
O amor é pressa, antes de tudo, um corpo

De vendas nos olhos Desvendas, meu corpo

é você, estraçalhada, que ainda sorri

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

guarda-chuva amarelo



fotos antigas. daquelas do baú da casa. na testa da tia, um eu. franzida. na casa o algodão vomitava cacos de vidro. bem que ela disse, não!. morreu no caminhão de mudança, sentada na cadeira de balanço. igual passarinho. quem morre dormindo morre como passarinho, ouvia.

- e tudo aqui, não se preocupe, tem nome. tem nome. tudo tem um nome


a avó, casou-se, com o avô. o namoro começou por conta de um guarda-chuva. antes ele namorava a prima-dela. tudo aconteceu por conta de um guarda-chuva, amarelo. lá, talvez, devia chover. ou fazer muito sol. e aí então o guarda-chuva ficava guardado pra sempre

domingo, 15 de agosto de 2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

anda à cavalo

Eu me perco. Ok?

– quem anda à cavalo não se perde pela lógica do cavalo o cavalo sempre volta ao lugar, perdido.

meu avô comprou um cavalo cego. meu avô usava dentes e morreu na minha frente. o coração dele parou uma máquina, pi, pi, pi...
o médico usava branco - era tão, tão, tão: não-sentia. ele me avisou.

eu perguntei se podia chorar. - posso chorar?
conheci 2 semanas antes de morrer.

(as mulheres andam e os sapatos parecem que estralam o chão)

besuntei a ressecadura dele
olhei olhei olhei

até hoje o olho dele me olha
rachadura

meu avô morreu de coragem

terça-feira, 10 de agosto de 2010

pronto: agora vou lavar louça e fazer o almoço...


Eu só estou escrevendo esta história pra te contar.

Quando eu me dei por lembrada que existia já passava dos cinco. De lá pra cá tenho lembranças de mim. Foi um momento neste ano que de lá pra cá me lembrou hoje que aí eu já existia. Fim de tarde, de lá pra cá, sempre nós, pai, mãe e irmã, uma só aqui, Quando me dei conta na memória que existia. Depois veio outra que era meu espelho e, portanto me lembrava todo dia que eu já existia. Mas aí eu já sabia só vinda a sensação de não gostar de...foi num fim de tarde, vou te contar como se tivesse a sensação na hora de existir, mas foi depois que veio, porque existimos por lembrar que um dia existimos, e fizemos algo que valeu a pena lembrar. Eu me dei conta que existia numa sorveteria, não por conta da sorveteira, mas dos eventos todos que a sorveteria me deu conta. O exato momento, depois te conto o que eu fazia lá, o antes, o depois, e o por quê, de existir. foi no instante em que sentada na calçada da sorveteria chegou um fusca carregado de gente, muita gente, você sabe cabe quatro (cinco) apertados, neste hora o fusca tinha oito, muitas crianças, eu existindo, sentada com todos na calçada, em uma mesa não na calçada de fato, dia de verão, calor, minutos antes de pedir meu primeiro Sunday. O fusca chegou, era como se fosse hoje, a mulher desceu e comprou picolé pra todos. Aí eu passei a existir. Era dracena, uma cidade perto da minha, só podia dar conta que existia lá, lá é o centro sabe, tinha sorveteria. E gente igual poleiro num fusca. Eu estava lá, em dracena, porque todas as vezes que minhas tias vinham de São Paulo, no final do passeio, passeávamos pra levá-las até a rodoviária. Eu adorava quando elas vinham, ia com meu pai de madrugada, nossa, tinha um cheiro a madrugada de buscar minhas tias. Fresco. Cheiro de quem chega de são Paulo. E depois vai embora, porque não é daqui mais, levá-las pra voltar pra são Paulo também tem gosto de sunday, meu primeiro. E de existir em dracena. cheiro de fim de infância. Porque Depois fui eu pra são Paulo, morar, aí eu chegava naquele ônibus, e meu cheiro era igual para mim, não pra quem ia me buscar. Era sempre meu pai que ia, ele sempre queria saber que livro eu estava lendo. então eu sempre lia algum livro quando chegava. e ele ria quando eu contava sobre minha leitura. meu pai passou a existir um pouco depois dos cinco anos, foi numa viagem que fizemos pro sul, na casa de parentes da minha mãe. e no pedágio pra ver as cataratas do rio Iguaçu, eu lembro, que senti meu pai tão gente, um homem foi grosso com ele, e ele tão humilde. depois fomos até o final, eu ele e minha irmã, minha mãe teve medo. mas nós fomos até a garganta do diabo, isso já é em outro lugar, mas na minha cabeça o mesmo. eu tenho tantas fotos deste lugar, as pontes balançavam, por isso minha mãe não foi, teve vertigem, ou qualquer outra coisa de adulto, mas nós fomos até o fim, era um lugar lindo, com quedas d´água, que acabariam nos próximos meses, por causa de uma hidrelétrica, então fomos até o fim. Depois morei com as minhas tias. Meu pai e minha mãe sempre imaginaram que não ficaria ali, que eu iria pra um outro lugar. E eu também.

domingo, 8 de agosto de 2010

resposta ao Secretário de segurança do estado

tem 3 dias que te escrevo
palavra alguma -
tem 4 noites que não durmo
rémedio
quero saber se tem algum
que me cure sem meu consentimento

laço o passado que divido em alma
homens mulheres
violentados
violentando-ses
pontas dos dedos gelados
alma suave
te digo com vergonha
- esquizofreniso o chão

todas as vezes é assim mijam em mim
e bebo o líquido o padre mandou.

de olhos quarentenas
vou
conte, eu a mim,
uma história pra dormir,
sem palavras, elas doem

em cinema mudo, por favor

pois sinto um gosto de sangue nas narinas

sábado, 7 de agosto de 2010

ensaio sobre o amor

Blimunda,

não olharei tuas víceras, ainda que os deuses me concedam a graça. as víceras, de alguém, são sagradas. e o silêncio profundo.

Baltasar

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Na madrugada os desejos, como flores
soam passarinhos

Tem sombras
que se encravam na casa

Igual prego que olha
os contornos belos do impreciso

margens de rios desembocadas nas janelas


Palavras que adornam o pensamento
meninas que rodopiam o vento

o tempo
Suave, suave

Imagens que amanhecem

E se esquecem


dançam em mim
quase como um tormento

Nas tuas costas marcas
Eu A linguar pontos

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A geografia do menino que vivia em "slow motion"-

(gargalhadas) Mas ainda não enlouqueci. Acho.
Rir sozinha é um sintoma, acho.
Uma semana, férias, Filho, escola, portão, tarefas da quinta série. Lanches.

Enfim, vida.

- Mãe, todo final de frase você fala: “...enfim...”

Tarefa. Reunião do grupo da feira de ciências, Da quinta série. Pra quem não sabe -, já terminei a quinta. Acho.

Correria. Médico, psicóloga. Não, hoje: médico, psicóloga: amanhã. Bom. Interrompi a reunião sobre: vulcões, tsunamis, e terremotos. Ou melhor, a intensidade deles.

[- como medir a intensidade?],...”é força.” , fui ao dicionário, mãe!,

Choro, após reunião. Prazos, cobranças, trabalho.
Intensidade do choro.

Filho, por que chora?

- não. Não estou chorando.

Intensidade distraída.
Medo de ser descoberto,
...neguei no final de semana a tarefa que fiz correndo em uma hora, incompleta. Por que mentimos, omitimos de nós, nossas vidas?

Retorno. Preciso elaborar um jeito de terminar tudinho sem minha mãe descobrir minhas falhas.

Amo tuas falhas, filho.

(choro), que diacho de mundo, que escondemos-escondemos.

Bom brincar de esconde-esconde, amor...
Vamos brincar.

Casa. Jantar, [pizza, oba!] – pizza de segundona só estando de férias da mãe há uma semana.

Recomeçando o dia.


Filho desesperado. Terremoto. Ok. Tsunamis. Ok. Vulcão. Mais ou menos.



Repassando a história.

Brincam. Decidem que o maior problema a enfrentar é a cara da professora no outro dia. Diferente dos alunos haitianos.

“Então,

Lembramos do Haiti, choramos .................p e l o H a i t i..........”

-E não inventamos a história do menino que queria viver em "slow motion"
Por conta do efeito do bater das asas das borboletas no movimento das placas tectônicas.

Da delicadeza, da gentileza.

Do profeta da gentileza.

Gentileza gera gentileza. Poesia.

Das falhas no nosso oceano.

Ao pesquisar encontramos uma tabela da escala de intensidade dos terremotos.

O filho organiza tudo. Passa corretor, muda a letra, enquadra.

Ao deitar.

Um beijo.
Mãe, a tabela vai do “não sentido até a destruição quase total”. Estuda comigo isto amanhã.

Estudo.

Volta pra cama. Deita. Sente o corpo tremer. Ouve o coração. Cabeça a latejar. Os pés a arder. Mente presa ao dia.

“Ele falava da escala de intensidade do terremoto. Acho.”

Dorme.

Amanhece:
Inventamos a história do menino que vivia em "slow motion". E brincamos de andar como se estivéssemos na lua. Poesia.

(esta eu escrevi com o meu amor maior, pe.)

terça-feira, 3 de agosto de 2010

eu ganhei um brinco de ouro, de argola, curtinho. no mesmo natal que minha avó quis matar meu vô, ou o contrário, na certa o contrário, porque muito provável minha vó já havia matado meu avô um pouco antes. eles se matavam todos os dias um pouco. ou porque sempre quando alguém mata, mata alguém, mata-se, a si, também. e A argola do meu brinco de ouro novinho, minha mãe prendia com cola nas pontas, porque por ser de ouro talvez eu pudesse perdê-lo, ou melhor, não poderia perdê-lo por ser de ouro, e a noite na cama talvez isso aconteceria. então colava, minha mãe o feixe da argolinha., sabe uva? as parreiras de uva. não aquelas que plantamos pra vender, essas são lindas também, o cuidado que damos pra cada cacho, com tesoura nós retiramos uvas para abrir espaço pras que sobram crescerem. mas aquelas parreiras de fundo de quintal que não me lembro de darem cachos de uvas pra comer, elas só servem de sombra, dão uns fiapos verdes, todo enrolado. lindos. eu escolhia os mais bonitos no seu enrolado pra colocar neste brinco de argola de ouro. prendia pra dar impressão de ser outros brincos maiores, de gente grande, moça. e falava com pessoas que existiam invisíveis. e eu era moça. e namorava árvores, abraçava e beijava. e quando a história de amor acabava, na minha invenção, ia embora

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

.
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puxou o fio da meada
que havia perdido -
breve
só pra ter certeza
de enrolar todo corpo
sem nós,

girou a mão, girou a mão
o fio conduziu

nem se apercebeu
nem se apercebeu
da cor da lã

domingo, 1 de agosto de 2010

bom dia dani


tô te escrevendo pra dizer que editei as imagens que fizemos na usina. da video dança. do texto da hilda. da pati, tão linda, bailarina. aproveitei as suas imagens.

aquelas que pegou entre as portas, ruínas, os sapatos, os passos. utilizei pra compor uma das mulheres, das quatro hitórias que construí. o jeito de andar

a de sapato alto, vermelho,

a bailariana

a descalça

e a das suas imagens tremidas entre-portas andando como se morresse - quase fantasma.


um bjo

deo