domingo, 31 de janeiro de 2010

meu pé e o museu

Ela está na calçada sentada

Há horas,
Nem feliz, nem triste,
Há dias,
Ela está,
E os sapatos em pilha.
Há dias, a olham,
A vida, adias,
olha:
Sapatos, mulher,
na calçada.
Nem feliz, nem triste,
Só dias, só horas.
Sapatos e mulher
E a calçada.
Nem feliz,
Nem triste
Só dias
Olham a mulher e a calçada.

sábado, 30 de janeiro de 2010

bom dia!

Olá,


Obrigada por enviar um resumo das notícias sobre as palestras. Gostei muito do último e-mail, vou organizar minhas leituras, e responderei um a um com comentários a partir das percepções de quando estávamos juntas. Vai ser muito bom trocar com você, principalmente, porque nosso roteiro não foi o mesmo. Antes de tudo gostaria de me desculpar pela ausência no grupo. Eu curto ficar sozinha em lugares que estou descobrindo e também gosto de silêncio. Agradeço a forma como respeitou o meu jeito “estranho”. E espero que seu sono tenha voltado. (obrigada por segurar minha mão enquanto voamos). Em anexo irão também meus resumos.


Um abraço carinhoso

clara
(anexo)
                                           

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010


(Porto Alegre, janeiro 2010)

Multiplicai o céu para que os peixes possam ser sonhados Ou tire de mim esta força que me sobra e me deixa morta de tanta fé. Amém.

"A fome tem uma saúde de ferro" (nação zumbi)



(Porto Alegre, janeiro de 2010)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Eu sempre compro sapatos maiores que meu número pra dar conforto. Bom, eu observei que tenho 23 seguidores, ontem chegou mais uma, a Sophia, bem-vinda. E por isso esta noite na madrugada mais exatamente me veio uma idéia a de que talvez eu devesse me apresentar a todos. Como dizia uma professora, diria a mais especial que tive entre tantas outras tão especiais quanto, devemos partir do texto para o contexto e depois de volta ao texto. Eu nunca escrevi, somente o necessário e obrigatório nas aulas de redação. Pra terem uma ideia nem carta pra namorados, nunca! Nem na adolescência rebelde sem causa me aventurei. Nasci em uma cidade minúscula do interior de São Paulo, onde tinha uma biblioteca com alguns livros. Ler sempre li, aliás, minha adolescência passei boa parte no quarto lendo. Minha mãe é professora de Português, mas nunca consegui aprender as regras, elas passam por mim, são misteriosas e esqueço muito fácil, tenho as mesmas dúvidas sempre. Aprendi com ela a gostar de poesia, líamos juntas. Eu morei em São Paulo, capital, por 7 anos, quando fiz ciências sociais na USP. Tenho paixão por pesquisa principalmente em antropologia área que fiz iniciação cientifica. Trampei em centros que pensam as questões de gênero e sexualidade. Dei aula. E agora trabalho em um sindicato. Às vezes brinco de fazer pesquisa, curto isso. Minhas leituras atuais, poucas na minha opinião, estão voltadas para antropologia feminista, mas sinto falta de trocas. Um grupo de estudo pra ler minha leitura num contexto mais amplo. Hoje moro em Americana/SP cidade que estranho. Aqui quando visitamos uma casa @ Don@ nos leva pra um passeio pelos aposentos até o mais íntimo banheiro, acho que é marca do lugar, diferente de tudo o que até hoje vi, por isso estranho. Por isso pensei em escrever esse texto. Por isso comecei a escrever esse blog pra ler até que ponto todos os estranhamentos estão dentro de mim. Na verdade comecei a escrever porque briguei com meu namorado, outubro de 2008, e me senti sozinha, triste, frágil, sem vontade de falar. Então comecei a escrever e isso foi curando algumas coisas. Tudo que posto tenho vontade de despostar um minuto depois, e normalmente faço. Eu sigo alguns blogs que conheci depois que comecei a escrever aqui. E gosto de seguir quem me segue, porque acredito na troca. Alguns chegam e não dá pra fazer isso porque não tem link de retorno. Eu vejo imagens cenas ou pedaços de cenas quando repouso minha mente. Gosto de escrever sobre elas. Esta noite vi um casal se aventurando num beijo orvalhado. Adoro exposições de arte e adoro música. Vou ao teatro uma vez por mês pra ouvir música erudita. Gosto de pensar sobre as históras das mulheres que estão em situação de violência, as que ouço nos trabalhos que faço na cidade. E brigo pra que arte chegue até elas ou o contrário. Sou chorona. Acredito que podemos pensar e repensar saídas pra nossa existência juntos. Sou ingênua. Eu recomendo todos os blogs que sigo e que me seguem pra todos que sigo e que me seguem, embora nem todos que sigo me sigam e nem todos que me seguem sigo. vixe fico confuso. ( verdinho me avisou que repeti muitas vezes a palavra “que”,.) Acho revolucionário poder ler tanta diversidade. E falando em trocas tenho um amigo, o “surreal”, por ora invisível, ele aparece como anônimo em alguns comentários, bom (...) também o recomendo.


Beijão e boa semana pra todos.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Não era fumaça que a impedia de delinear os olhos era névoa da manhã gelada que saía da sua boca fino sol e embaçava o espelho onde retocava a maquiagem toda manhã.

sábado, 23 de janeiro de 2010

"Deu pra ti


Baixo astral

Vou pra Porto Alegre

Tchau

Quando eu ando assim meio down

Vou pra Porto e... bah!, tri legal

Coisas de magia, sei lá

Paralelo 30.."


Tô feliz.  Vou falar sério estes dias. Ouvir. E tentar entender o "outro" minha maior utopia. E poxa conhecer Porto Alegre. pq o caminho pro sul no imaginário de uma interiorana (caipira) de sp tem aroma de maçã.
não amor, melhor não
mesmo
porque (antes você)
tem que acreditar em deus
ah! E chorar compulsivamente no meu velório,
pra não ser enforcado em praça pública.

* inspirado no Estrangeiro  (A. Camus)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

...porque eles são gente como a gente e vivem num país como o nosso eu tenho medo.


Por isso a preocupação e noites de insônia?

Não. Tenho medo de sofrer como eles. Perder minha mãe meu irmão meu pai.

Por isso que está chorando?

Sim, por isso.

Posso ficar aqui com você, posso?

Pode. (...)

Eu gosto da Hannah Montana, e você o que assiste na teve?

Filmes.

Só mais uma coisa, posso falar?

Sim.

Mesmo quem não tem a mesma religião é gente como a gente?

Por que a pergunta?

Ah..porque se eles não forem “gente” eu posso ficar tranqüila. Né?

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

“Hoje tem aula de dança

o lugar é improvisado porque o primeiro improviso ruiu.

Do movimento o que sei

é a fome”

(duas notícias misturadas em mim num canto qualquer enquanto eu dormia.)

Passou uma história por mim enquanto eu dormia

Estava deitada

Esqueci.

Era uma menina que subia uma escada

Virava-se e sorria.

Eu esqueci

Noutro dia nós andamos pelas ruas e não era sonho

 era a menina bailarina

de mãos dadas que se virava e sorria.

(E você apareceu

eu sei você

não sonho mais)

A noite passou por mim

enquanto eu dormia

numa escadaria menina

a bailarina sorria esquinas...

enquanto eu dormia.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

da justiça



pastoral da criança, Araçatuba/sp. setembro 2009.
(foto minha)

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

da palavra

o poeta ficou sem palavras
esqueceu o nome de tudo
 e aí
lapidou o silêncio
no abismo das ideias.

domingo, 17 de janeiro de 2010

alívio

Ela passa bem. Foi localizada soterrada entre o vizinho e o superintendente de produção. O rapaz de lilás que a viu. É. Ele parece inteligente até escreveu um texto sobre o que ele sente que ela sente. Estão todos sentados na frente da teve. O texto vai sair no jornal: "ela que está morta não sente nada."

sábado, 16 de janeiro de 2010

Do corpo

Ele sussurrou nos seus ouvidos escondidos no fundo do quintal. Eu quero te comer. Eu quero tua carne pra matar a fome.Toda agitada: tira a sua mão da minha coxa. Tira ela daí. Por quê? Não me sinto bem estou zonza. Você é uma puritana, católica sei lá o quê, mal amada, mal comida, medrosa, envergonhada, feia, recalcada, (...) contida. Sou. (choro diário). O toque  fez sentir demais. Não quero ser cadáver contaminado quero ser morto chorado. Se pudesse escolher. Tem tanta gente morta aqui. Tenho medo. Sentiu repulsa, comeu enojada. Era um esgoto a céu aberto. Ela olhou de novo as crianças brincando pregadas na parede. ...escorria ouro pelos sulcos da terra. Abriu um buraco e enterrou três corações  no entorno dos seus pés. Foi só um sonho acalme-se. Moravam na terceira casa do final pro começo da viela. Eles se amavam. O almoço já está pronto hoje teremos frango com polenta. Querendo aparentar sussego esforçou-se. e sorriu baldio.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

25 de novembro de 2005

Abriu o e-mail e de novo pela milésima vez a mensagem apareceu. Clicou: decidir depois.


Deitou-se, 5 anos antes, e recomeçou a tricotar a peça que não seria nada. A linha era bege.

Tome cuidado puxe o fio com a mesma intensidade pra que os pontos se assemelhem.

A proposta era 6 carreiras por dia. Contou porque um dia esqueceria.

Retornou, 3 pontos soltos, perdidos.

Decidir depois

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

do lugar




No lugar da dança bem no centro tem um abraço de árvore desengonçado segurando o teto. Tem um pau colocado com raiva bem no meio do salão. Ele alcança o teto (e não margeia as fissuras do céu.) Machuca o. Está enfiado pra proteger a todos de sua queda.


Parece triste e tem fiapos.



Brinca que alcança o céu e o segura para não cair. Um dia ira cair, medo. Sua sombra faz cama para a goteira. Goteja ali no canto esquerdo entre e o espelho e a barra gelada. Entre os pés e o reflexo. Brilha uma poça d’água que desenha no chão algo do passado de quem vê. Depois da chuva vem aquele sol ardido. Mas ainda não seca o úmido do lugar, nem as paredes adormecidas.


É um galpão e faz eco posso ouvir daqui do lado poente da cidade.


Tem um som assim de fogo tremendo. Fora o som da música que só alcançamos por memória porque as paredes são surdas. E as mãos dançam o final de alguém.


O céu tem uma cor, como chama. Mistura tons e tipos de superfícies, mas não consigo ver daí. As paredes se acumulam nos cantos enrugados. As paredes parecem cortinas amontoadas nos rodapés. Pesadas. Um dia esse lugar vai cair. Penso: e se fossemos embora dali prum outro lugar talhar paredes no escuro de um talvez?


Não, melhor ficar. Porque lá não tem janelas. Outro dia passei e vi alguém cantando por uma janela, ela sorriu, quando alguém que está cantando sorri lembra o céu. E ela ficou ali por muito tempo. Olhando, esperando. E o brilho da água no canto afetava os olhos que refletiam o lugar. Mostravam o externo sem se misturar. Estava cansada do abandono que não é do tempo. Mas do tempo, da pressa do malfeito. Do visgo do improviso. Outro dia ela pegou o lápis e desenhou as sombras com cuidado de quem senta e rascunha o lugar e vai embora cedo e com pressa.



Hoje a escora amanheceu torta. Não frágil, cansada. As sombras dos pés das bailarinas dançaram sob o teto que caiu. Mortas nem sentiram a dor.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

a tarde de ontem

de todas as palavras escritas só me lembro das que têm som.
e da aquarela

(...)


Quando eu comecei a pintar

eu fugi de casa,

e parei de me bater,

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Nunca mais vou desenhar. Vou juntar tudo e jogar no-li-xo. São Lixos aqueles traços de ideias. Mimada você é, isso sim. Sou e daí! Problema é meu. Quando peguei no lápis queria uma árvore queimando não uma havaiana de filme enlatado muito menos uma colegial sexy. Nem ao menos nunca o que saiu: um homem vestindo saia, ridículo, e com cara de havaiana ainda dançando hula-hula num baile do havaí. Tá! Mas foi o que saiu e nunca mais voltou. Talvez nunca mais volte. Mas mesmo assim tô com saudade de olhar você no domingo demanhã pintando aquarelas erradas. sem ar.


domingo, 10 de janeiro de 2010

Comércio-livre-américa-amém

Ela abriu as pernas



Ele olhou bem pra ela e nasceu. Ainda sente falta do tempo em que não existia. Por ora ele era tão ela que existir era uma doença que tinha nome e começava bem ali no meio daquelas pernas. E como se abriam. No contragosto do toco entrava inteiro no parto da vida. E ela obrigava, insistia. E tacava pra dentro todo o mal que ao redor a envolvia. Lamento, choro, repulsa. A mulher que apanhava toda noite e voltava pro abrigo foi encaminhada pro consulado,. Agora ele quer casar. Está procurando casa para morar. E ela de mente triste, doente, demente, passa os dias no sanatório da cidade que precisa de um número, contam com ela. De novo algo depende dela para existir. Ninguém entende o que eles vivem ninguém entende  por qual razão ela está aqui todos duvidam dos dois. Acontece que de manhã o olho machucado forma círculos marcas de cor. E os tons vão clareando com o tempo que anda pra trás no jeito de sarar. Ela por ser estrangeira depende dele, e dizem que é louca também. O que faz com que ele decida vida e morte. E espera. “Faz com quê”, ninguém contesta. Têm medo dizem que ela amanhecerá com um corte bem feito na garganta, profundeza na superfície da pele. Porque ele tem uma camada fina de educação que empoeira os que cercam. E nunca, nunca perde o bom tom. É o gigolô dela. Anda tão fora de moda esse termo, gi-go-lô! Os gigolôs são sujeitos engraçados, igual patrão. Entre um gigolô e um patrão, truco.






Seis. Seis horas é hora da ave Maria,. Oremos todos pelos pecados do mundo, então.






Nove. Nove horas o portão rangeu misteriosamente ela fugiu e ainda está no meio de nós. Deitada em alguma cama ao lado de algum senhor.






Fim.



sábado, 9 de janeiro de 2010

desenhar palavras: Num lugar

Cena de ontem:

Arrancaram ontem com os dentes os gordos do portal. Não, os gigantes. Não, os gordos. Ah! Os gigantes que estavam gordos demais poderiam cair na cabeça dos passantes na entrada da cidade. Sentença: infiltração. Nossa como chove nesta cidade. Laudo: o artista disse: ‘imbecis’!

Cena de outubro passado:
Mãe eu quero olhar o portal. Podemos ir amanhã?

Cena final:

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

seis da tarde


Era uma mulher de gosto comum. Quase sempre se fantasiava de ninguém. Um dia virou musgo, uma gosma qualquer no fundo de um rio. O verde musgo e o rio quilombo no toque dos seus dedos. Subiu o vidro bem na parada do carro. Tudo fora dali formava paisagem, até o feio cheiro do rio-esgoto transpirava desenhoso uma margem de calma rançosa. A tarde era de um céu que pedia pra cair, azul-escuro, como um manto grotesco, mal rascunhado. Eram muitos em um, verões. E ela bem lá no fundo. Balanço-mulher de águas. Aí molhou o dia, respingou no vidro da frente, mas evitou limpá-lo. Os pingos brilhavam sementes. Cantarolou uma música que nem sabia que sabia. Num silêncio com retorno. A sua voz era tão clara que a letra fez sentido na sua pauta improvisada. O lugar desafinou. E choveu nos seus olhos de vidro.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

"mãe por qual razão eles se machucam?"


não sei. não entendo, amor.


Xiitas têm pés vermelhos de sangue. E um corte amarelo sem dor daonde sai o sangue que tem cor. Crençacor na folha de um jornal. Seus dedos são tristes que doem. E andam nas ruas, apegados, a marcas que deixam nas calçadas. O sangue escorre no fiapo da sarjeta. E nos vãos escurecem o tempo. As pegadas lembram coelhinho-da-páscoa. Paz cá, lá, acolá, vai demorar. pés E doem como os pés das bailarinas. Que são pequenos, mas sagram. Não lembro de ficar na ponta dos pés. Lembro de desequilibrar e quase cair. Fracassar. porque Sou grande demais pro balé. E os xiitas grandes demais pra paz.


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Namorar. Dar beijos longos, enrolando línguas. até sentir a aspereza do outro no domingo de manhã lendo jornal. E coçar o pé com preguiça da noite mal dormida que descansa o corpo com carinho que dá. Antes de dormir reler aquele poema que me faz chorar,. Em voz alta pra você ouvir.