terça-feira, 28 de julho de 2009

Espelho

O som refletido no espelho
Cria imagens que não entendo
De vozes roucas sem sentido que cantam músicas iguais
no mesmo tom.
Sempre.
do meu ouvido vinil riscado, sae notas musicais: desenhos coloridos.

escorrem como num ralo (a)o vazio,
pedaços de músicas que você canta para alguém.
Ouço não vejo. mas a cor e a forma são claras.
Quando olho para você,
sinto o escurecer do seu olhar triste, doce de mel,
Um realejo toca o começo de uma rima qualquer para te ler à sorte certa.
Mas você não existe.
Desdobra o ser em nenhum.
Como um restaurador, sem as mãos do gênio, a arrancar as cascas
Retintadas.
Por cima da obra, simples que amo, de arte.


domingo, 26 de julho de 2009

Cê.

"que cê tem, mãe?"
Tô com toc, amor...
Toque e me rele, por favor.
"engraçadinha".

quinta-feira, 23 de julho de 2009

+

está difícil escutar o som da minha voz.
Eu ando tão sem dentro.
E o fora parece passagem. Aragem.
Agora isso me faz lembrar pastagens.
E mudo de rumo. Lembro do dia que cortei meu joelho em um caco de vidro, quando ao ajoelhar na grama, do pasto, senti dor e vi meu sangue. O céu tão azul e as nuvens brancas, borradas do vermelho aparecem misturados na minha cabeça de lembrar. Muitas cores, paragens. O lugar declinava e no meio um riozinho tímido, córrego de alguém. Era proibido e de existir tirava o sono. As árvores de dentro, pomar, eram de outro sabor, íntimas, fáceis de subir. Poncã, cheiro bom. Goiaba, textura macia. Jabuticaba, árvore acessível aos pés. Manga, proibida. Casa grande com algo a não compartilhar. Cerca arame separa os quintais das casas brancas que dividiam a colheita, colônia. A brincadeira era ficar na larga e passar de uma casa a outra em bando. Os meninos cuidavam dos obstáculos. Eu era a menina da cidade. E do bambuzal, som. Num bueiro de terra clara e grãos soltos todos deitados cansados inventando histórias de terror, antes do sol se pôr. Sujos e famintos o banho e a cama eram a oração final: amém.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

(musgo)

A cada pedaço de sílaba
Alguém a pensar-sentir
Exposto interior.

Fratura além do osso
o sangue que quente
a carne gela.


Se-mente em constante inconstância
Diferente mente
Cada um vale
O vale que pesa
No corpo que cai.

Ponto, cego.
Enxergo além da sílaba: o som
(antes de existir a música)
Essências em símbolos
Grafados por gestos
Sentidos 5x ao infinito
Medidos no eu-do-outro.
Justapostos: Res-peito, cor-ação.

terça-feira, 21 de julho de 2009

sono

Sono apartado
parte insônia sonho
parte sono penso
meu medo impensável
greve do óbvio
no frio dos ossos
na carne
que treme quente de ócio.
choro coro moro
morro
saudade.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

20/07/1999

lavapés com sal e alecrim
no só nosso silêncio
de fábricas de sonhos de argila
sob um céu dolor
amanhecer
:tricotar pedaços de nuvens aprendiz
entrelaços de peixinhos
com lãs coloridas
saudade do passarinho frágil
que nos ensinou a despedida
e no fim de tarde:
observar aviões desenhados de vontades
brincar de não ser, e
ser o que somos sem medo.
amar do tamanho do céu
quantas vezes?
quatrocentas trilhões quadrilhões de vezes...

domingo, 19 de julho de 2009

amor

Hoje amanheci selecionando imagens na memória. Amanhã: 10 anos. São tantas lembranças doces: impossível colocá-las em um álbum organizadas cronologicamente ou em grau de importância. Elas vão de festas aas noites febris tão facilmente, sem dor com dor tão calmamente. Um toco de gente vestido de sol cantando – ‘nem o sol, nem o mar, nem o brilho das estrelas, tudo isso não tem valor sem ter você...’ E o hominho sendo refrescado com paninhos na noite de febre ‘com dores nos dolhos’ a me acalmar: fica tranqüila o remedinho vai resolver, mãe. A aquarela para o presente que rasgou e jogou na estrada quando ventava, nós dois paramos para recolher os pedaços e colá-los, era azul e vermelha e a mistura fez um tom lilás, tão seu. Agora não dá mais para brincar de avião (nem o moderno, nem o antigo - teco-teco) nas minhas pernas, mas o tatame ainda está valendo. No mesmo lugar nossas atuais conversas proibidas sobre a Juliana Paes – em que me põe a pensar pensando. Suas dúvidas – por que sempre escolhe o caminho mais distante? . Esse, eu (é) seu (sei) vai nos levar para Minas. Porque já fui aa Minas e todos os caminhos que vão para lá são iguais. Uma ânsia de sentido. Bússola abstrata. Como mede o amor? Com termômetro? Inventamos nossa língua esse dia e rimos muito: então, tá*. Ah ta**. (*também amo,**amor, traz amor...). A tristeza, mãe, é um palhaço sem face pendurado na parede do meu quarto. A alegria, filho, é uma flor delicada que podemos olhar da janela a qualquer hora,

quarta-feira, 15 de julho de 2009

No último inverno do meu olhar senti auto.piedade, engraçado, nunca observei que esse meu choro calado e doído no peito traz uma sutil leveza de um eu-não-meu a olhar os cantos inacabados da minha matéria com crueldade bondosa. Neste instante me julgo com a dureza da possibilidade da perfeição. Como posso sentir isso por mim, que fraqueza, despreparo, falta de cuidado comigo própria. Com.paixão aos que moram ao lado tudo bem, aliás, é assim que deve ser, por obra do que é certo sem saber. Mas a força deste sentimento refletido em mim fragiliza desampara. O choro nascido lá fora tem outro salgado, alimenta. O que nasce aqui dentro tem sabor amargo de amor as avessas, é corrosivo, destrói. Amarra e machuca a garganta, tira o ar, mata aos poucos.

Partimos o tempo
Para comer as horas
Fartos: morremos de fome.
No outono da busca
a Solidão é desejo
De conter-se em alguém
Absorver o ser
Não existir
Senão inteiro e impossível
na delicadeza da vontade

presa-arisca-sutil
Da incompletude plena

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Cela ou sela

Hoje eu fui pro-curar pa.lavras. Em geral vou no mínimo umas, em média, 30 vezes ao dia. Deve ser alguma doença nova ainda não catalogada ou já catalogada, vai saber? Tantas coisas existem sem nos darmos conta delas. Precisamente corro aos dicionários por três motivos: desconhecimento completo; esquecimento total(o mais comum); ou curiosidade em amplicar o significado das palavras, tirar delas mais que o uso comum-habitual. Dúvidas profundas quanto ao conteúdo e a forma das palavras. Outro dia diante da idéia ...Nada devia ter um nome por medo que esse nome o transforme.(Virginia Woolf) alguém pensou: talvez o nome também poderia aprisionar. Segue as c.s.elas de hoje...
dicionário
s. m.
1. Colecção!Coleção alfabeticamente disposta das palavras de uma língua ou de qualquer ramo do saber humano, seguidas da sua significação ou da sua tradução numa outra língua.
Dicionário vivo: pessoa erudita.(visão...estreita)


erro (ê) s. m. 1. Acto!Ato de errar. 2. Inexactidão!Inexatidão. 3. Apartamento, desvio do bom caminho. 4. Engano. 5. Desacerto. 6. incorrecção!incorreção. 7. Pecado, ilusão. (católico de+)
Ai, se eu pu(ouseriacomo)desse queria viver em um mundo sem dicionários.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

dente de leão

bem-me-quer, mal-me-quer...
Por que aperta a minha ferida?
Sangra e dói.
Por que aperta a minha ferida?
Sangra e dói.
Por que aperta minha ferida?
Sangra e dói.
Por que aperta minha ferida?
Sangra e dói.
As pálpebras escuras
incham vermelhas
carregam as vistas
Por que aperto a minha ferida?
Sangro
Dor.
Os nervos me doem
meu corpo me avisa
eu existo.
Não sou líquido
não sou ar
sou vísceras.
bem-me-quer, mal-me-quer...

quarta-feira, 8 de julho de 2009

vestes

Medida do eu
Medida do meu
medita a mim
Soou a medida além
até mim
no eu do eu
semmim
doeu
sem mim
Jasmim
Jaz mim
Sou, suou sim.
ode você que enxerga
enxerta - enchera -
a mim
sem ti.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Cirandar

Voltar a dançar uma dança de voltas circular. Brincar com os movimentos segurando as mãos ora com par ora sem par. Ao som de polcas alemãs, decorar os passos complexos e concatenar com o par, uma dança aprendida há muito tempo em algum lugar, em que o homem estende a palma doando a esperar e entrelaça num jogo as mãos tecidas por caminhos ritmados por uma música secular. Popular. Em seguida uma dança com pulinhos que nos faz suar e o Pedro pergunta: Já quer parar!? Em seguida aos pulinhos em círculo os pares giram como em um salão vestido de outro tempo e de outro lugar. Rodopiamos como bailarinas. E o Pedro pergunta: Nem todos que dançam são bailarinos, não é mãe? A brincadeira é trocar de par e o que mais gosto é o retorno quando a mulher em um gesto suave inclina-se a agradecer ou cumprimentar. (isso tem um nome e deve ser em Francês esse balé de nomenclaturar) Mas a emoção maior é voltar desta viagem distante e reaprender a cirandar. Tão simples dançar ciranda. Passos fáceis gestos amigos numa coletiva alegria ao som de uma Ciranda de Luz. E o Pedro pergunta: Quando é a próxima aula, mãe? Em uma breve semana, amor.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Dançar

"Não me interesso em como as pessoas se movem, mas o que as movem" Pina Bausch

Não sei por quê.

O sol secou o orvalho da manhã fria
entardeceu as horas das flores-dores
mostrou a delicada sombra (das folhas no chão)
no caminho mais longo
das árvores tristes
do céu retintado de vermelho
da igrejinha amarela
no horizonte da cana queimando
em um profano fogo
no oco do meu eu
danço ao som da mais bela melodia
sagrada e nua.
vestida de partituras que não sei ler.
no instante
quero te tocar logo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

cheiro

Hoje: sinto o cheiro do dia.
A noite apagou a dura pena
da melancolia.
Regresso ao amanhã
de um ontem futuro.
presente no som do entardecer.
de uma manhã crepúsculo.
Dá para acontecer qualquer coisa com o que (des)construí.
Viver é bom
morrer é para poucos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

pensamento

O que fazer quando o pensamento meu pensa-me sem mim? Esperoo concluir? Impeçoo de pensar? Matoo no toco?. Todas às vezes que penso em você é assim. Dúvidas benditas surgem em mim sobre o que tenho direito a pensar-sentir. Seria excesso de cuidado? Medo? Não sei. Eu sei que não ouso chegar ao fim. Estilhaço meu pensamento em respeito a algo que não entendo: este é meu jeito de amar. Sempre que te desejo próximo me podo ainda broto. A sutileza desta sensação te ama mais. Leve como o som do fogo na noite fria. Sinto o sussuro da lágrima andarilha desenhar rios na minha face. Delicada. Seu sal adoça o dia.