segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Capítulo, sete

Certa vez ouviu alguém dizer que o silêncio era sempre paz. era uma meditação onde o vazio de palavras nos levaria até deus. Mas o silêncio dela trazia eco de palavras caladas, não porque não existiam, mas porque não eram ditas. Como andar num cemitério, ali aonde tudo acontecia, o silêncio era feito de um respeito autoritário, que vinha do medo, mas se recriava pelo receio daquilo que não entendia.

O tema da manhã era o silêncio. Ela teria que escrever algo sobre o silêncio. Queria começar com uma frase de efeito: "O silêncio diz mais que mil palavras." Mas isso não era frase de efeito, apagou. Pensou, pensou, pensou...nada. Só pensava no filme que havia visto aquela tarde. Um filme assim, assim, tema batido, mas que toca, assim, assim. "Falar do silêncio". Achou melhor ficar quieta.

Daí, ela se atrapalhou toda e diante do tema fez o inverso. Começou a escrever, ‘barulhentamente’, um texto atrás do outro. Barulho, compulsão. Nem sentiu. Vomitou tudo como quem tem prazo de validade e precisa terminar a vida e entregar a quem de direito tiver o quê, melhor que ela, fazer com o que viver. Estava sentindo dores no estômago. Queria ir embora de mim a qualquer hora, desde que fosse agora, sem muita demora. Na verdade essa ansiedade começou no momento em que ele, não queria falar dele, propôs a ela, pensar durante um ano, é, exatamente um ano, em uma poesia que escreveria. Ela entregaria, no prazo de um ano, 14 de novembro de 2010, uma poesia, que segundo ele, deveria vasculhar no mais profundo dela. Então sentada na cadeira de área, que ficava na cozinha, pensou inquieta, o que sairia dela assim de tão profundo que talvez demorasse um ano? Nossa! Isso a incomodou profundamente. Não teria coisas lá tão profundas dentro dela. Lembrou-se do que ele sempre repetia: não é doçura que vejo em você, é profundezas.
..."Não é força que vejo em você, é coragem; não é inteligência que vejo em você, é sabedoria; não é resignação que vejo em você, é paz; não é saudade, é amor; não raciocínio, é inspiração." Falou isso, ela riu. sorriu."

e dormiu. porque toda vez que a felicidade vinha, a tristeza se erguia. e a lágrima não a esquecia. "É foda", pensou. Era o único xingamento que se permitia.

*eu, você (Do lado de lá)


Um comentário:

  1. é foda.
    falar do silêncio... achou melhor ficar quieta.

    Achei foda.

    ResponderExcluir

eu não sonhei, sonhei.