sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

seis da tarde


Era uma mulher de gosto comum. Quase sempre se fantasiava de ninguém. Um dia virou musgo, uma gosma qualquer no fundo de um rio. O verde musgo e o rio quilombo no toque dos seus dedos. Subiu o vidro bem na parada do carro. Tudo fora dali formava paisagem, até o feio cheiro do rio-esgoto transpirava desenhoso uma margem de calma rançosa. A tarde era de um céu que pedia pra cair, azul-escuro, como um manto grotesco, mal rascunhado. Eram muitos em um, verões. E ela bem lá no fundo. Balanço-mulher de águas. Aí molhou o dia, respingou no vidro da frente, mas evitou limpá-lo. Os pingos brilhavam sementes. Cantarolou uma música que nem sabia que sabia. Num silêncio com retorno. A sua voz era tão clara que a letra fez sentido na sua pauta improvisada. O lugar desafinou. E choveu nos seus olhos de vidro.

Um comentário:

eu não sonhei, sonhei.