quinta-feira, 10 de junho de 2010

hoje, por conta do dia dos namorados, que cai no sábado, dia internacional da foda, Eu vou começar uma campanha contra o amor, ou a favor.

porque disto eu entendo.

tem poucas coisas que entendo. o amor é uma delas.

não entendo de nada. quando penso sobre algo que não entendo me sinto pobre. na maior parte das vezes é assim que me sinto: pobre.


mas do Amor, este que durante a semana vemos estampado: nos outdoors, nas propagandas, nas vinhetas, nas lojas..enfim. esta ideia que materializamos através do que somos. eu dou meus pitacos. cada época tem um cheiro próprio um jeito próprio de pensar o amor.

e...

eu amei.


(assim)
citando:


"....Essa afetação científica não me interessa. A minha descrença nas ciências humanas está além da possibilidade de cura. Parafraseando Pascal (séc. 17), quando se refere a Descartes (séc. 17): acho as ciências humanas incertas e inúteis. Tampouco sofro da afetação das neurociências. Aqui, o amor seria apenas uma sopa com mais ou menos serotonina. Pouco me importa qual lado do cérebro acende quando amo. Ambas nos levariam a conclusões do tipo: o amor romântico seria uma invenção a serviço da ideologia burguesa e patriarcal ou alguma miserável conjunção de neurônios, como num tipo de demência senil. Falo como medieval extemporâneo que sou. Acho a literatura medieval melhor para falar do amor romântico (como achava o mexicano Otavio Paz). Em matéria de ser humano, confio mais nos medievais do que nos homens modernos. Segundo "Tratado do Amor Cortês“, o amor é uma doença que acomete o pensamento de uma pessoa e a torna obcecada por outra pessoa, criando um vício incontrolável que busca penetrar em todos os mistérios da pessoa amada: suas formas, seu corpo, seus hábitos. Trata-se de um anseio desmedido, uma visão perturbada que invade o coração dos infelizes. Tornam-se ineficazes e dispersos. Esses infelizes deliram em abraçar, conversar, beijar e deitar-se com o ser amado, mas jamais conseguem fazê-lo plenamente (por várias razões), e essa impossibilidade é essencial na dinâmica do desejo perturbado.

eu delirei.


"Corpo e alma estremecem anunciando a febre da distância. O amor romântico é uma doença. Nada tem a ver com felicidade. Por isso sua tendência a destruir o cotidiano, estremecendo-o. Ou o cotidiano o submeterá ao serviço das instituições sociais como família, casamento e herança patrimonial, matando-o."



eu destruíii o cotidiano. enlouqueci.


"Daí a grande sacada dos medievais: quando desejo e virtude se contrapõe, a “maldição de amor” assalta a alma. Sentir-se pecador (e por isso não merecedor da beleza do amor) destrói a alegria, atiça o desejo e piora a doença. A melhor rota é fugir do amor, porque uma vez ele instalado, a regra é a dor. "



por isso estou só. porque amei. por isso não vou comprar presentes no dia dos namorados.
porque amei.




....



(amanhã mais uma da série o amor que eu morri)





*citação da crônica de luiz felipe pondé, Heloisa, na folha de são paulo, 31 de maio de 2010.








4 comentários:

  1. nessa semana, tomada pela explosão de coraçõezinhos vermelhos em toda parte, fui em busca de uma definição. A que mais me tocou (pois então jamais amarei senão o Pedro):

    Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos.
    Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer.
    O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer.
    (...)
    Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca.

    (Antoine de Saint-Exupéry, in 'Cidadela')

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  2. li,

    saudadinha de nois juntinhas....
    conversando igual adolescentes depois de trabalhar feito camelas...
    e oh eu só não vou praí este sábado, porque eu tenho que sofrer mais um poucokkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.

    obrigada

    cê é linda!,
    bjo -


    e vem cá o "instinto" da propriedade..
    nasce d'onde?,

    ps: amiga, sou chegada numa revolução. o amor custou-me a lucidez. e minha segurança, meu cotidiano...

    e o amor pelo pedro voltou tudo no lugar.
    amores ---------- pêndulo

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  3. Por alguma louca e inconsciente associação de idéias, sua postagem me recordou deste trecho de Georges Bataille no livro “O erotismo”:

    Queremos ter acesso ao além sem dar o passo, mantendo-nos ajuizadamente do lado de cá. Não podemos nada conceber, nada imaginar, a não ser dentro dos limites de nossa vida, além dos quais parece-nos que tudo se apaga. Além da morte, com efeito, começa o inconcebível, que não temos ordinariamente a coragem de enfrentar. Esse inconcebível é, contudo, a expressão de nossa impotência: nós o sabemos, a morte não apaga nada, ela deixa a totalidade do ser intacta, mas não podemos conceber a continuidade do ser em seu conjunto a partir da nossa morte, a partir do que morre em nós. Queremos, a todo preço, atravessar esses limite, mas gostaríamos de, ao mesmo tempo, excedê-los e mantê-los.

    No momento de dar o passo, o desejo nos joga para fora de nós, não podemos mais fazê-lo, o movimento que nos leva exigiria que quebrássemos. Mas o objeto do desejo, excedendo diante de nós, nos liga novamente à vida que excede o desejo. Como é doce permanecer no desejo de exceder, sem ir até o fim, sem dar o passo. Como é doce ficar longamente diante do objeto desse desejo, de nos manter em vida no desejo, em vez de morrer indo até o fim, ceder à violência do desejo. Sabemos que a possessão desse objeto que nos queima é impossível. Das duas coisas uma: o desejo nos consumirá ou seu objeto deixará de nos queimar. Só o possuímos com a condição de que o desejo que ele nos provoca se apazigúe pouco a pouco. Mas antes a morte do desejo que a nossa! Nós nos satisfazemos com uma ilusão. A possessão de seu objeto nos provocará, sem morrer, o sentimento de ir até o fim de nosso desejo, que era na verdade o de morrer, nós o anexamos à nossa vida durável. Enriquecemos nossa vida em lugar de perdê-la.


    Beijos.

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  4. carla

    que bom que está aqui.

    louca ou não sua ligação (observação) fez sentido pra mim. muito.
    o livro entrou na minha lista de espera.

    ...."No momento de dar o passo, o desejo nos joga para fora de nós, não podemos mais fazê-lo, o movimento que nos leva exigiria que quebrássemos. Mas o objeto do desejo, excedendo diante de nós, nos liga novamente à vida que excede o desejo."...

    vc sempre me coloca pra pensar.
    vou por uma música pra vc....

    bjo, mto beijo.

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eu não sonhei, sonhei.