segunda-feira, 11 de maio de 2009

"Perto de mais"


A mesma sensação de muitos anos. Vem como brisa bater leve na janela da minha alma. Muitos caminhos, nenhuma escolha a fazer, a ordem do dia a organização das coisas parecem existir além de mim. A vida me tem. Penso em um rio, sou criança pescando embaixo da ponte (a)onde vivia um andarilho. (Como esses homens chamam minha atenção desde muito jovem, lembro o nome de todos, sempre recebíamos em casa – estranhos, sujos, famintos, doentes, cheios de histórias para contar... e dividíamos o pão nosso de cada dia). E sentados todos na casa que era a rua conversávamos em família. Na mesma rua da minha casa andava de bicicleta quando olhei para céu, o mesmo que na noite de natal mostrou-me uma estrela cadente enorme amarela. Ninguém acreditou em mim... quando meu pai chegou para ceia contou a mesma história, todos acreditaram em nós. Ele também viu a mesma estrela deslumbrante no céu, eu tinha dez anos no ano que vinha. E o mesmo céu me disse em sussurro que o meu mundo iria um dia acabar, assustada larguei a bicicleta e corri para dentro de casa. Em algum lugar estaria segura e morna.
A mesma sensação de abandono e (des)proteção. Carências irrevogáveis, impossíveis de compor. Retomo o caminho oposto certa de existir alguma certeza na solidão. É esta certeza que não prende nada nem ninguém a mim. O desamor que expiro vem da certeza da impossibilidade de transferir a alguém a responsabilidade de repor em mim o que me nego.


2 comentários:

  1. Veio a dúvida justamente do (des)amor. Será que é justamente ele o responsável pelo desapego sentimental ? O céu disse o contrário: "algum dia o seu mundo acabaria" mas que em nenhum momento você deixaria de ter lugar nesse mundo, debaixo deste céu. Nem sempre nos sentimos seguros e mornos dentro de nossas casas. Às vezes é preciso sair e deixar que o frio da noite escura fortaleça o morno das manhãs ensolaradas.
    Caio S.

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  2. Caio, anônimo, Obrigada por comentar...
    Pensava nas "mudanças" e nos momentos que nos damos conta delas!!!E o que fazemos delas e o que elas fazem de nós.??E a minha dúvida é o que vale a pena ou até mesmo o que conseguimos "conservar"??
    dani,

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eu não sonhei, sonhei.