terça-feira, 3 de agosto de 2010

eu ganhei um brinco de ouro, de argola, curtinho. no mesmo natal que minha avó quis matar meu vô, ou o contrário, na certa o contrário, porque muito provável minha vó já havia matado meu avô um pouco antes. eles se matavam todos os dias um pouco. ou porque sempre quando alguém mata, mata alguém, mata-se, a si, também. e A argola do meu brinco de ouro novinho, minha mãe prendia com cola nas pontas, porque por ser de ouro talvez eu pudesse perdê-lo, ou melhor, não poderia perdê-lo por ser de ouro, e a noite na cama talvez isso aconteceria. então colava, minha mãe o feixe da argolinha., sabe uva? as parreiras de uva. não aquelas que plantamos pra vender, essas são lindas também, o cuidado que damos pra cada cacho, com tesoura nós retiramos uvas para abrir espaço pras que sobram crescerem. mas aquelas parreiras de fundo de quintal que não me lembro de darem cachos de uvas pra comer, elas só servem de sombra, dão uns fiapos verdes, todo enrolado. lindos. eu escolhia os mais bonitos no seu enrolado pra colocar neste brinco de argola de ouro. prendia pra dar impressão de ser outros brincos maiores, de gente grande, moça. e falava com pessoas que existiam invisíveis. e eu era moça. e namorava árvores, abraçava e beijava. e quando a história de amor acabava, na minha invenção, ia embora

Um comentário:

eu não sonhei, sonhei.