quarta-feira, 17 de novembro de 2010

 

30 de novembro de 2009

Capítulo, sete

Certa vez ouviu alguém dizer que o silêncio era sempre paz. era uma meditação onde o vazio de palavras nos levaria até deus. Mas o silêncio dela trazia eco de palavras caladas, não porque não existiam, mas porque não eram ditas. Como andar num cemitério, ali aonde tudo acontecia, o silêncio era feito de um respeito autoritário, que vinha do medo, mas se recriava pelo receio daquilo que não entendia.

O tema da manhã era o silêncio. Ela teria que escrever algo sobre o silêncio. Queria começar com uma frase de efeito: "O silêncio diz mais que mil palavras." Mas isso não era frase de efeito, apagou. Pensou, pensou, pensou...nada. Só pensava no filme que havia visto aquela tarde. Um filme assim, assim, tema batido, mas que toca, assim, assim. "Falar do silêncio". Achou melhor ficar quieta.

Daí, ela se atrapalhou toda e diante do tema fez o inverso. Começou a escrever, ‘barulhentamente’, um texto atrás do outro. Barulho, compulsão. Nem sentiu. Vomitou tudo como quem tem prazo de validade e precisa terminar a vida e entregar a quem de direito tiver o quê, melhor que ela, fazer com o que viver. Estava sentindo dores no estômago. Queria ir embora de mim a qualquer hora, desde que fosse agora, sem muita demora. Na verdade essa ansiedade começou no momento em que ele, não queria falar dele, propôs a ela, pensar durante um ano, é, exatamente um ano, em uma poesia que escreveria. Ela entregaria, no prazo de um ano, 14 de novembro de 2010, uma poesia, que segundo ele, deveria vasculhar no mais profundo dela. Então sentada na cadeira de área, que ficava na cozinha, pensou inquieta, o que sairia dela assim de tão profundo que talvez demorasse um ano? Nossa! Isso a incomodou profundamente. Não teria coisas lá tão profundas dentro dela. Lembrou-se do que ele sempre repetia: não é doçura que vejo em você, é profundezas.
..."Não é força que vejo em você, é coragem; não é inteligência que vejo em você, é sabedoria; não é resignação que vejo em você, é paz; não é saudade, é amor; não raciocínio, é inspiração." Falou isso, ela riu. sorriu."

e dormiu. porque toda vez que a felicidade vinha, a tristeza se erguia. e a lágrima não a esquecia. "É foda", pensou. Era o único xingamento que se permitia.
*eu, você (Do lado de lá)


aí errei a data - mandei 16 de novembro 2010

sem profundismos

ontem quando andava na cidade eu pensei em um poema profundo
era um viaduto. e subindo. e subindo, pensei

sair pra andar na cidade sem rumo é profundo

organizar minha vidinha é profundo
ouvir do meu filho que deus não existe é profundo
dizer ao meu filho que ele existe no meu  amor é profundo
em seguida pendurar roupas no varal e chorar sozinha com medo de ficar sozinha é profundo

viver é tão profundo
tanto que um viaduto tem o tamanho do tempo que a cidade espera dele
para alguém sem rumo
e isso acho que acaba sendo profundo
tem flores amarelinhas cercando as bordas onde vejo o céu
num relance
gosto de olhar de relance pra ver outra coisa
não o que está lá
e isso é profundo
tudo aqui é tão simples
tão triste
tão sozinho
e tão sem sentido
que acho que deva tudo ser profundo
só o que sinto com tudo isso que não é profundo
dura um instante porque no próximo algo mais profundo vai ocupar espaço do algo profundo anterior. e me esquecerei. esquecerei. e tudo se diluirá
o diluído talvez seja profundo.
e te digo mais. não exista nunca pra mim. e isso acabará profundo.
seja alguém que alguém mandou, que seja você mesmo, para que este alguém, você mesmo, não chegue.
traga um menino sempre no bolso. pra ser por você pra mim
me engane que nunca te irei pra canto nenhum
e quem sabe assim acabo de olhar o quanto não sou profunda
porque não consigo ninguém na medida superfície dela
e não seja profundo
eu morro afogada se colocar meus pés neste fio d ' água.
 
aí o felipe foi tão gentil e me mandou uma música e a sugestão de um filme. na verdade de um curta sobre paris....

Hoje eu vi um filme chamdo Paris, Te amo. São várias historinhas feitas por vários direitores. Sobre Paris. Mas o foco principal é o amor, Paris é o pano de fundo, à medida que o amor não é Paris e Paris não é o amor. Lá pra final teve uma história que me fez lembrar de vc. Era uma história de uma mulher dos EUA que foi passar as férias em Paris. Ela era uma pessoa sozinha, não tinha ninguém com quem partilhar nada, mas não era triste. Ela simplesmente estava viva, como ela mesmo diz. Não sei se vou conseguir me expressar bem, mas oq mais me chamou a tenção nela, e que acho que se parece muito com vc, foi o fato de ela se sentir sempre distante de tudo, era como se ela morasse em outro mundo, vivesse em outra realidade. Ela nunca estava onde estava. Eu acho que vc é assim, estrangeira nesse mundo.
 
Beijos! Muito obrigado pelo poema. Adorei!
 
 
felipe. 


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eu não sonhei, sonhei.