quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Homilia

Dizem que foi José, de nome José que se apaixonou por Maria, pobre Maria. No sul da Itália. E saíram. De necessidade. Fugidos de lá. Por que na essência dos frutos que produziam existia tanta diferença que o melhor, dizem, era vir pra cá. Dizem que chegaram e inventaram essa história. Reinventada por tantos outros. E agora por mim mais uma vez. E dizem não ter fim à quantidade de vezes que foi cantada para explicar o fim. Dizem que não tiveram medo. Chegaram e foram vivendo a vida no interior de algum interior. Dizem que o melhor a fazer é escrever com lógica para que todos te entendam. Dizem que família é aquilo que forma a gente do começo ao fim. E a gente peleja o resto da vida para sair de mim. Bom, dizem que o começo foi assim. Contado assim. Como história de amor que não tem fim. As histórias que se seguiram a essa eram diferentes enfim. Dizem que o filho de José morreu com um medo sem fim. E de tantos Remédios, que sem precisão tomou por fim. Dizem que era uma doença na garganta destas que na época não podia falar o nome. De existir. Dizem. Os bares da vida serviram de palco para por um fim. Os Remédios rezavam por entre os cemitérios a algum santo que talvez lhe curassem um mal da pinga que lhe estragava a família do começo ao fim. Dizem que os homens vivem na rua. Dizem que mulher mija em pé. E recolhe sozinha. O sustento com revolver na cintura. Dizem. Tem muito ponto final no que escrevo. Dizem que é fácil escrever uma história depois que se viveu. Difícil é escrever a que vai viver. Foi um homem que disse da mãe que nem morta queria mais ver. Dizem que ela o queria ver para matar a curiosidade de saber, antes de morrer, se de fato não usava mais trato de outros modos para viver. A pinga. Dizem que mesmo morta, e isso eu vi, parecia comandante de tropa a dar ordens a todos. Dizem. Essa mulher apanhou. Do homem da mesma família da mulher que bateu. Mas dizem que ela batia porque queria que os homens não fossem ao bar. Embora, dizem, que lá é o seu lugar. Dizem que um dia ele tomou coragem, a pinga, e dizem, eu vi, tentou com punhal matar aquela mulher. Dizem que não foi à primeira vez esta que vi. Era natal. Véspera. Vez espera. Exaspera. Dizem que crianças não devem ver isso. Crescem traumatizadas, dizem. Dizem que famílias traumatizam. Dizem que este homem passou o Natal sozinho. Sentado na varanda. Dizem que uma criança vestida de menina ficou olhando para ele. Sentiu pena. Dizem. E curiosidade da solidão da solidão de um homem que queria matar alguém. E dizem que não foi preso. Sua condenação foi àquela varanda. E o olhar de medo daquela criança vestida de menina. Dizem que ele viu essa menina pouco antes de morrer. Dizem que ela levou uma flor, certa vez, para ele. Dizem que essa menina ainda existe. Dizem que é bela a primeira história desta história. Dizem que é uma história de amor. Dizem.

2 comentários:

  1. no interior de algum interior
    da solidão da solidão de um homem
    condenado à uma varanda
    porque quis matar.

    muito bom... sem palavras.

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  2. obrigada.

    o muito bom é que é vital escrever:

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eu não sonhei, sonhei.