quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Pau D'Alho

Eu me lembro do terreiro, das carriolas abarrotadas de galinhas mortas.

Lembra mãe?

(parece que eu escutei a fala da vovó na sua voz

'filha você lembra de cada coisa.'

nós quatro temos a mesma voz:

Maria, Daniela, Carolina, Juliana)

Era alguma praga daquelas que passam e matam.

Ou daquelas que precisamos matar antes que nos mate.

dos remédios aos pingos no bebedouro delas.

E das valas. E do cuidado para o mal não se alastrar.

Lembro que vocês doavam leite, pai e mãe.

E que naquele ano, da praga, alguém passou fome.

Lembro do flamboiã,

Das cadeiras, dos livros,

Daquela sombra fresquinha

E de estudar histórias com você. Mãe, lembra?

Eu tinha medo de não entender.

Lembro do mutirão das uvas. Nossa como é delicado plantar uvas.

E do tempo dos alhos, a casa ficou em frangalhos

E a sala virou santuário de envasar nosso trabalho,

Bugalhos, alhos, atalhos

tudo misturado ao cheiro forte do lugar

Tudo para eu estudar,

E ir embora de casa.

e voltar no final do ano

com saudades de Pau D'alho.

2 comentários:

  1. Dani que emocionante..que profundo...que lindo!!!!!
    Parece que vc conseguiu expressar o verdadeiro sentimento sobre nossa casa, sobre PD...E em forma de poesia..Ficou bárbaro!
    Vc sempre me faz rir, chorar, sentir várias coisas no mesmo texto.Vc é muito boa no que faz!
    Beijo..
    Ju

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eu não sonhei, sonhei.