Nunca escrevi esta história, ela sempre me soube, porque não queria imprimir a ela o meu tom. E por ela ser, pra mim, maior do que eu, não quis contá-la. Quando a leio de memória choro.
Uma moça que adorava coretos e nos finais de sábado ouvia música na praça, um dia, conheceu o amor nos olhos de alguém, olhos que possuíam mãos que tocavam trompete na banda da praça. Um som rugoso que se completava com outros sons, mas só esse ela era capaz de ouvir. Nesta tarde não teve certeza de nada, nem de existir pra quem amava. Nesta história havia uma janela, e nesta época as moças ficavam nas janelas. Ela, desde então, corria para ver os passos que levavam consigo aqueles olhos verdes, não queria saber o que diziam, nem pensava em poesia, queria vê-los, como quem olha sem motivo pra uma fruta que está no pé, sem atravessá-la. O tempo passou, com as exigências que negociam amores, e num lance de azar uniu os dois, numa festa onde se dança. Dançaram, pouco falaram, e mal se tocaram. Quando chegou em casa, ainda vestida de festa, começou a bordar as peças, que serviriam pra um dia se amar. Ele foi embora pra um lugar onde pudesse encontrar algo que o transformasse em alguém merecedor daquele amor. E ela ficou lendo e relendo as cartas, todas até hoje guardadas, e cuidadas para o papel amarelar, uma amarelo tão bonito cheio de esperanças pros amores de amanhã. Quando a espera terminou, na certeza dele de ser merecedor daquele amor, foram embora os dois, prum chão de terra batida em parte vermelhão, no meio de uma cidade com outra cor. Ela conta que retirava as peças bordadas quatro vezes ao dia e nelas punha à mesa com a delicadeza de quem veste um altar e se farta das certezas que traz a fé. Na foto preto e branco ela tem flores vermelhas no cabelo para ornar com o rubro das bochechas beijadas por ele todos os dias. Mas ele foi embora desta história tão cedo, antes do tempo, e ela chorou, choveu dias e noites no seu altar. Empilhou lembranças, revirou os móveis, e esperou seu tempo chegar. Demorou, pensei eu, que talvez essa história não devesse contar, foi castigo por tanto amor, num mundo que mal consigo enxergar o mar. E, por demorar, ela começou a escrever cartas, pois agora era ela, que saía pro mundo a esperar por merecer este amor. E um dia os dois irão embora juntos para um chão de terra batida, em parte vermelhão..
Uma moça que adorava coretos e nos finais de sábado ouvia música na praça, um dia, conheceu o amor nos olhos de alguém, olhos que possuíam mãos que tocavam trompete na banda da praça. Um som rugoso que se completava com outros sons, mas só esse ela era capaz de ouvir. Nesta tarde não teve certeza de nada, nem de existir pra quem amava. Nesta história havia uma janela, e nesta época as moças ficavam nas janelas. Ela, desde então, corria para ver os passos que levavam consigo aqueles olhos verdes, não queria saber o que diziam, nem pensava em poesia, queria vê-los, como quem olha sem motivo pra uma fruta que está no pé, sem atravessá-la. O tempo passou, com as exigências que negociam amores, e num lance de azar uniu os dois, numa festa onde se dança. Dançaram, pouco falaram, e mal se tocaram. Quando chegou em casa, ainda vestida de festa, começou a bordar as peças, que serviriam pra um dia se amar. Ele foi embora pra um lugar onde pudesse encontrar algo que o transformasse em alguém merecedor daquele amor. E ela ficou lendo e relendo as cartas, todas até hoje guardadas, e cuidadas para o papel amarelar, uma amarelo tão bonito cheio de esperanças pros amores de amanhã. Quando a espera terminou, na certeza dele de ser merecedor daquele amor, foram embora os dois, prum chão de terra batida em parte vermelhão, no meio de uma cidade com outra cor. Ela conta que retirava as peças bordadas quatro vezes ao dia e nelas punha à mesa com a delicadeza de quem veste um altar e se farta das certezas que traz a fé. Na foto preto e branco ela tem flores vermelhas no cabelo para ornar com o rubro das bochechas beijadas por ele todos os dias. Mas ele foi embora desta história tão cedo, antes do tempo, e ela chorou, choveu dias e noites no seu altar. Empilhou lembranças, revirou os móveis, e esperou seu tempo chegar. Demorou, pensei eu, que talvez essa história não devesse contar, foi castigo por tanto amor, num mundo que mal consigo enxergar o mar. E, por demorar, ela começou a escrever cartas, pois agora era ela, que saía pro mundo a esperar por merecer este amor. E um dia os dois irão embora juntos para um chão de terra batida, em parte vermelhão..
que lindo, dani!ainda bem que chegou o dia de contar essa história tão bonita. beijos
ResponderExcluirBonito de sentir...
ResponderExcluirde fazer oração.
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Bj
Si.
tenho uma pequena caixa, cheia de cartas que nunca foram enviadas...
ResponderExcluirentão(...) enquanto isso, douglas, tem alguém bordando, e te esperando em algum lugar...
ResponderExcluirum beijo.
História incrivelmente singela, sensível, belíssima. Um pouco triste por causa das partidas e das lágrimas, outro pouco alegre porque esperançosa. Como a vida. Poetisa em sua melhor forma.
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ResponderExcluirobrigada, anônimo, a história agradece.
ResponderExcluirbjo