Dá um nome pra você?
Nome?
É. Para o que faz?
Não tem nome.
Claro que tem...
Ah, ontem eu cortei jornais. Notícias que não conseguia ler.
Cortou? Mas como...
Eu levantava todo dia na mesma hora. Andava até o lugar onde estavam os jornais, que esperavam já escritos. Acolhia algumas notícias, lia, mas não entendia, ainda. Então passava a tesoura e colava algumas palavras num coração aturdido de esperança.
Nossa, que isso.
Aí o tempo foi passando. E eu que lavava os banheiros, cada dia um azulejo, comecei a ler linhas e significá-las.
Antes não significavam?
Significavam, mas o significado não era compartilhado. Somente com o anjo que não sabia escrever. Nós inventamos uma língua só nossa. Como se eu fosse uma estrangeira, e nunca aprendesse a falar. A princípio achava que não conseguia compartilhar, na verdade não queria. Era o meu segredo, nosso. A melhor das ideias era a mistura, como numa música, ou num quadro, onde os sons se misturam ao silêncio, e as cores ao vazio.
Mistura?
Sim, ah..não mistura de jantar, tipo coisa que comemos com arroz e feijão. Era a mistura de pessoas pra conseguir amar. Entender. Compreender. E nós nos misturávamos, pra sentir a dor do outro, entender o pensamento. Ah, e as alegrias também, mas com isso tenho mais dificuldade.
Como um sonho?
Não, como realidade. As pessoas não eram as pessoas. Os olhos no supermercado traziam o mundo de gente em poucos olhares. Dos terroristas as lavadeiras que cantam, e todos tentavam se amar. Teríamos que inventar uma outra palavra pra esse amor.
Mas é possível Viver num mundo inventado?
Então, as crianças, trocariam de mães. Para que as mães dessem seus leites pra outras crianças, e assim, aprendessem a amar a partir de seus filhos. Era simples a ideia, como uma flor dourada, ou um mato crescido, que também tem seu lugar no jardim...
Que doideira.
E, meu filho também seria amamentado por outras mulheres, o abandono seria a regra. E por isso não existiria. Também daríamos um outro nome pra isso.
Poderiam fazer mal pra ele.
Bem e mal, Como eu faço porque o mundo está todo ele em mim.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
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quisera eu chegar mais perto do lugar onde sua mente viaja e seu coração sente.
ResponderExcluirbeijinhos
Gosto muito de ler o que você escreve, Dani.
ResponderExcluirBeijo.