segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Porque nem tudo é sexo, né?

..." Até que sua boca se encheu de saliva. O vento empurrou a porta do quarto. A tranca rangeu um som lindo. Ela levantou-se e ficou mexendo com a porta, pra lá e pra cá. "Que som lindo!" Havia conseguido compor uma música: letra: Brumário; melodia: inheque, inheque, inheque, inhequeque...

O vento insistiu. E começou uma resistência entre a porta e a força que ela fazia com a suas mãos. Isso alterou o som de um jeito que não sei explicar. Parecia constante a sensação de força que resistia a um movimento seu. O que cansava o seu corpo, que agora não sentia. Por isso era bom o cansaço, era um sentimento que retirava os outros do seu corpo. Então por que esta sensação negativa em relação à resistência que o mundo fazia sempre em que ela estava pertencendo. Se no final era o cansaço que vinha, amplidão sem som. Paz sem vida. Completo. Parecia morte, mas era bom. Parou com a música e deitou-se. Acordou um século depois no seu interno tempo de ontem.

Uma joaninha saiu de dentro de seus olhos. Saiu fazendo cosquinhas, descendo pela sua face, passando pelo seu pescoço, até chegar à sua barriga, ela a seguiu com o olhar, rindo do movimento frenético de suas patinhas. A joaninha alojou-se no seu umbigo e ali ficou, adormecida. A porta fizera-se de pausa, Brumário esfacelou-se no ar, a música se perdeu. O tempo movia-se viscosamente, grudando-se nas gentes, marcando-lhes a face. Tinha sono, mas era incapaz de dormir, seu corpo soluçava algum recomeço de vida.

Era fumaça no seu pensamento e se espalhava naquilo que conhecia realidade. Esquecendo nela uma herança do nada. Por isso a música sempre voltava como lembrança. Os parques as praças as joaninhas que andavam por ela. E no meio tom aquela música que perseguia. E seu corpo, quando voltou para aquele instante não era seu, não podia ser. Ocorria que uma moradora vermelha com pontos pretos tinha tomado a posse e bem ali no umbigo. Sua ligação com o mundo devia passar por lá. E a esperança morria ali todo dia. Mas a joaninha não se dava conta. Ela pensou avisá-la, desistiu. Gostava da cócega que o jeito de andar da joaninha lhe fazia. Lembrou-se do vizinho o homem-galinha. A sua mão virou seu rosto e começou a fazer um carinho como se não pertencesse ao mesmo corpo. E ouviu: ‘amor, descanse’.

Nunca ouvira um trovão, mas de repente o amor se instalou nela, abrupto, pum! Seco, sólido e poroso. Amou a joaninha, como todo amor mortal, com sede de infinitos. Amou até o fim, com amor de aumentação. Como amou! Sabia quantas pintinhas tinha, quantas patinhas, sabia do movimento das anteninhas (joaninha tem anteninha, dani?). Mas houve um dia, sempre há, houve um dia que ela quis beijar a joaninha, ah! Pobre, abraçou pobrezinha e quando desabraçou ... ah! Não quero falar.

Nem eu. Somente ouvir o som do meu desejo nascer saudade. Porque tudo acabaria naquele momento. Ou no anterior quanto desejei que seria para sempre. E tentei absorver e dar sentido a forma como a joaninha andava em mim. Pobre joaninha começou a existir só para satisfazer meu desejo, cruel eu fui. E ao mesmo tempo por que amar logo a joaninha, tão tranqüila, que viveria tão bem a sua vida até sempre que fosse. E eu um ser sem sentido amando uma joaninha. E rompendo o seu corpo. Estilhaçando a sua couraça de proteção que era pura beleza. Num abraço que (não) deveria ter fim. Naquele 'fim' instante estava tudo acabado.

*você. e acho que eu. ou o eu que arrancou de mim.

7 comentários:

  1. Nunca mais vou olhar uma joaninha com os mesmos olhos!rs
    Saudade da minha louca!
    Bjos
    (Simone)

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  2. Será que a joaninha vai até o chão?rsrs

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  3. até hj me arrependo de ter mantado a joaninha no segundo parágrafo.

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  4. você mtou as duas: a joaninha e a catarina. rs,
    e eu tava tão apegada a catarina, nem conto!!
    beijão,
    eu amei a joaninha, me apaixonei perdidamente por ela. um amor sem medida. e agora ela é minha, tá presa no meio de livro marcando uma página, manchando palavras, destruindo algum sentido...

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  5. se superando a cada dia em seus contos ... me delicio lendo essas palavras que de tão delicadas revelam a simplicidade que teimamos não enxergar ... viva a joaninha ...
    caio s.

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eu não sonhei, sonhei.