A mãe trança os cabelos. A menina caminhava com a cabeça pesada de trançar. Lembra da igreja que passava logo de manhã. Antes das sete para o caminho da escola. Sobre seus pés tirinhas de couro a roçar. Corpo miúdo ainda com tranças grandes, que pesavam, com uma certa dor ardida da lembrança do descabelar. Demora o caminho na lembrança. Era de café com pão, feita a despedida. De tantos passos a chegada, sem música e muita encruzilhada. Os cabelos nas enxurradas de ventos que não os tiravam do lugar. Tiritavam os fios. É uma arte trançar. Alegre não era, nem triste estivera, nem lembranças da demora, por hora só sabe que agora parece a trança essência dela. Não vai chorar? E não tem dança. Tem nariz de menina e queixo enrugado de um choro apertado de medo de apanhar. E de andar sozinha nas ruas que pareciam grandes demais. Com a boca tapada das nove ceras de um altar. Parece que a cera é da menina. Mas não é. As velas que queimam as promessas derretem a ceras e colocam tudo no lugar. Pernas pequenas que refazem caminhos nem tão longos assim. As sensações de mim. Puxa para cá, puxa pra lá. E a trança se faz no balanço de um calcanhar. Que dor dá essa brincadeira de trançar. Cabelos presos na destreza de mãos a entrelaçar pedaços de nós. Como dói meu couro cabeludo de pensar. Escurece. E, os pés, os cabelos, os novelos, os fios, as roupas coloridas, as grades, as janelas, a calçada, as minhas mãos, as brincadeiras, os joelhos ralados, os queixos perfurados, a língua beijada, as pernas amputadas, o sexo empalhado, o lápis não usado, o caderno sujado, remontam meu jeito de andar.
sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
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Quando te leio
ResponderExcluirsinto como se eu lesse a sua própria leitura das coisas... como as velas que queimam as promessas e derretem as ceras e colocam tudo no lugar. E quando escreves o choro apertado da menina com queixo enrugado de medo de apanhar, é como se eu visse desenhos de palavras...