quarta-feira, 1 de abril de 2009

Olhar

Cenas e queixas*

A noite quente suava em nossa pele morna. O retorno para algum lugar familiar demorou mais que devia. Nesta demora palavras eram entrelaçadas no silêncio. Algo monótono aconteceu, surgiu, ou melhor, brotou de algum canto de horror nosso. O menor, o pior, de uma fenda insípida de respeito devorou uma saudade de compaixão que não existiu. A cabeça latejava, pulsando e estralando junto ao coração. A cama, possibilidade de sono e suave sossego para as palavras que pairavam podres e desconexas no ar. Elevou-se. Como alçapão conduzido por mãos de bicho raivoso. Ela caiu, dorso no chão, dor sem perdão. O chão escorreu por seu corpo, e ela, vislumbrou (bonito isso) uma paisagem de ponta cabeça pelas janelas do seu olhar. Ferida acessa na alma, corpo/cabeça a pestanejar no chão de concreto. Acabou. Ele saiu e voltou, o tom mudou o silêncio tocou, a dor imperou, e, o arrependimento se instalou. Corpos destruídos ardiam de raiva e furor. Força maldita da mão delicada que rasgou o que costurou. Odiou o que um dia amou: mas não se libertou. Também não implorou, só esfacelou. Objetos no chão e alguém impotente na mão. ((( E um jardim a brotar ao som da lua e das estrelas: esperança no meio da dor))) Amanheceu. Ninguém se amou. E a hipocrisia velou a dor. (clara maré)

*Maria Filomena Gregori. O estudo trata das cenas da chamada guerra conjugal: agressão e espancamento de mulheres por seus maridos. A autora analisa o discurso queixoso das vítimas, bem como a trajetória de uma entidade feminista de apoio e conscientização - SOS Mulher de São Paulo.


à querida Léa, mais que amável, minha amiga de luta... que acha que rimar a linha de baixo com a de cima é pura ilusão: prefere as “armas”...rs Que me deu esperança, de graça, está semana... obrigada!!

diga (não) a violência. Denunie: disque 180...

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eu não sonhei, sonhei.