...."Sua investigação do sonho foi para ver como se apresentavam, numa outra instância, essas necessidades radicais? Se apropriar do sonho na sociologia é uma aposta ousada.
(martins) - É, atrevida, né? Eu fiz uma recomendação expressa para os alunos que fizeram a pesquisa, cujos trabalhos publiquei depois, de que era proibido ler Freud.
Porque eles tinham que descobrir por fora da teoria freudiana o que os sonhadores estavam dizendo de si mesmos com os sonhos.
(martins)- Claro, o que disse foi que se eles lessem Freud, A interpretação dos sonhos, por exemplo, ou o que os freudianos dizem, não conseguiriam fazer um trabalho sociológico. Proibi para que conseguissem imaginar, criar e ousar. Freud explicou do ponto de vista da psicanálise. Agora, sociologicamente é outra coisa. E no Brasil, aqui na USP, tínhamos dois trabalhos de referência, um do Bastide e outro do Florestan. Bastide pesquisou o sonho do negro e descobriu uma coisa importante que deixa os negros furiosos hoje em dia: só é negro quem sonha como negro. Isso significa sonhar com os arquétipos da cultura negra, em que não existe a separação entre a vida e a morte. Esse trabalho é antigo, e depois ele voltou ao tema."
(José de Souza Martins Edição Impressa 147 - Maio 2008 - pesquisa FAPESP online);
"Aqui fazemos exames para constatar as lesões corporais. Não medicamos, nem fazemos curativos. Favor não insistir."
(informe afixado na parede, ao lado da mesa do médico legista, ao lado da maca para exames ginecológicos, no IML da cidade de Americana);
eles cortavam meu abdomem já suturado. ele não cicatrizava. e o médico andava de um lado para o outro. agitado lavava as mãos inúmeras vezes. a equipe era grande, 10 estudantes de medicina e enfermagem, todos me observavam. não estava com medo. só esperava deitada a solução para minha ferida aberta. parecia que talvez fosse sair um filho. talvez não. a carne parecia acostumada. e uma menina segurava minha mão dizendo que tudo iria passar. (............)
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eu não sonhei, sonhei.