quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
do lugar
No lugar da dança bem no centro tem um abraço de árvore desengonçado segurando o teto. Tem um pau colocado com raiva bem no meio do salão. Ele alcança o teto (e não margeia as fissuras do céu.) Machuca o. Está enfiado pra proteger a todos de sua queda.
Parece triste e tem fiapos.
Brinca que alcança o céu e o segura para não cair. Um dia ira cair, medo. Sua sombra faz cama para a goteira. Goteja ali no canto esquerdo entre e o espelho e a barra gelada. Entre os pés e o reflexo. Brilha uma poça d’água que desenha no chão algo do passado de quem vê. Depois da chuva vem aquele sol ardido. Mas ainda não seca o úmido do lugar, nem as paredes adormecidas.
É um galpão e faz eco posso ouvir daqui do lado poente da cidade.
Tem um som assim de fogo tremendo. Fora o som da música que só alcançamos por memória porque as paredes são surdas. E as mãos dançam o final de alguém.
O céu tem uma cor, como chama. Mistura tons e tipos de superfícies, mas não consigo ver daí. As paredes se acumulam nos cantos enrugados. As paredes parecem cortinas amontoadas nos rodapés. Pesadas. Um dia esse lugar vai cair. Penso: e se fossemos embora dali prum outro lugar talhar paredes no escuro de um talvez?
Não, melhor ficar. Porque lá não tem janelas. Outro dia passei e vi alguém cantando por uma janela, ela sorriu, quando alguém que está cantando sorri lembra o céu. E ela ficou ali por muito tempo. Olhando, esperando. E o brilho da água no canto afetava os olhos que refletiam o lugar. Mostravam o externo sem se misturar. Estava cansada do abandono que não é do tempo. Mas do tempo, da pressa do malfeito. Do visgo do improviso. Outro dia ela pegou o lápis e desenhou as sombras com cuidado de quem senta e rascunha o lugar e vai embora cedo e com pressa.
Hoje a escora amanheceu torta. Não frágil, cansada. As sombras dos pés das bailarinas dançaram sob o teto que caiu. Mortas nem sentiram a dor.
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suas palavras criam um imenso turbilhão de imagens em minha mente.vou viajando,imaginando,sentindo e quando percebo estou na cena. poderosas palavras.
ResponderExcluirbeijos
"não frágil, cansada."
ResponderExcluire a poça que desenha o passado de quem vê
e o lado poente da cidade que esmerila um dia inteiro que o sol descreve em arco sobre o céu pra ser poente. Esse céu que tem horas parece vai cair, não por fragilidade, por cansaço.