terça-feira, 31 de março de 2009

Saias ao vento

Saí com minha saia ontem,
hoje, amanhã,
Logo entregou-se ao vento.
Leve roçou minha alma.
No meu corpo desprendida, desobrigada,
sucumbiu à suavidade do movimento.
Elevou-se ao sabor da claridade.
Dançou em mim desajeitada e tímida.
Desdobrou-se à possibilidade de um tufão.
Transformou-se no querer.
Foi presa pelas mãos delicadas do receio.
Insistiu, cedeu leve à preguiça de ser sem pensar.
Soltou-se!
E repousou na razão da existência: Amar o vento e refrescar-se com a liberdade...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Ama(durecer)

Outro dia o Pedro me perguntou:
"Mãe, o que você quer ser quanto crescer?"
:umA BAILARINA, amor...

(Cecília Meireles)

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Não conhece nem dó nem ré
mas sabe ficar na ponta do pé.

Não conhece nem mi nem fá
mas inclina o corpo para cá e para lá.

Não conhece nem lá nem si,
mas fecha os olhos e sorri.

Roda, roda, roda com os bracinhos no ar
e não fica tonta nem sai do lugar.

Põe no cabelo uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu.

Esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina.

Mas depois esquece todas as danças,
e também quer dormir como as outras crianças.

... o quanto puder, amor, quando é sempre. Hoje, ontem e amanhã. Nunca é muito tempo, lembra?

segunda-feira, 23 de março de 2009

(mistura de gente)

História de joão

Esta é uma história de qualquer joão, que um dia morreu e deixou sua história para ser contada por "sua" tânia, regina e celina, que um dia sentiu na pele o que era existir. Bom, tânia, faxineira, ela, ou eu, ah. Não sei, sei que havia uma socióloga, esta, tentava fechar o feixe de um colar verde usado, que tânia, socióloga por ora, ganhara de sua patroa, que a amava, desde que tirasse todo seu pó.
A conversa demorou mais de quinze minutos entre eu, a faxineira, e ela, a socióloga, ou o contrário? Não sei. Adoro não ser, é libertador. Talvez. Só sei que tânia, faxineira e socióloga, contou sua história, exatamente porque não conseguíamos fechar o feixe do colar verde usado e ganhado. Era natal, muitos "presentes"! Estava torto, e necessitava, ele, de muitos ajustes para se adequar ao pescoço de tânia.
Tânia, faxineira, muito trabalhadora, fazia questão de manter o seu nome com muita limpeza e correção, mas tinha um defeito: ai, como gostava de passar seu passado a limpo, era até inadequado diante de tantos "textos" para ler. Lá vai, fazer o quê, a mesma história que contada e recontada me enjoava, de tão humana que era.A história ou eu? Não, a tânia. blalalalal... João, motorista de ônibus, fazia o trajeto: Limeira\?/Americana... (*nomes e fatos são reais nesta história, não foram alterados, se não, perderiam a essência do óbvio da vida).
Um dia morreu. Homem que "era" mantinha cativas duas mulheres e uma amante. Como amava este homem, ou não amava, pode escolher? Posso eu dizer que tânia o amava. Eu sentia: nas palavras que não eram ditas. Em três teve que dividir a morte de alguém, que em vida estava dividido em três. Ele e ela. Elas, nenhuma sabia da outra, quanta inocência mulheres que "eram", vítimas de pouco amor ou muito, amor. E não saber conferia a tânia um coração cheio de perdão, e, a certeza que jamais seria de outro homem. Porque a este teria "devotado" toda a amargura e ódio que não poderia imaginar ser "dona".
Silêncio. E num suspiro, a faxineira que por ora era socióloga, fechou e "aprumou" o colar de miss(ç)angas verde. O olhar cobrava um comentário, destes inteligentes que ouvimos por aí, mas, não, ninguém falou. Eu, porque não estava presente, ausente que sempre estou. E ela, porque queria me agradar. Em tom inadequado falei toda feliz: Nossa! Ficou linda!! Então, nós nos despedimos... sentirei tua ausência nas férias. Não esqueça de mim.
Um dia terei vontade de contar essa história, mas de tão simples que somos, melhor não fazer. As palavras, minhas, não são adornadas e não te agradariam o suficiente. E "todos" reclamariam da falta de concordância.

(clara maré)

segunda-feira, 9 de março de 2009

Flores



Monet
(Duas versões de um mesmo jardim)









Mulher e homem:
Diferença que quando vista em
um contraponto
enriquece a melodia da vida...

sábado, 7 de março de 2009

"Tudo que é sólido desmancha no ar"



Sem nome

é bom não vê-lo
sua visão seria em vão
tudo igual sem razão
falta óbvia de explicação
ligação no vazio nosso
sem nexo no olhar
de pessoas que passam sem marcar
correm da nossa vida, empilhando-se
uma após outra
os nomes não importam
a vala é comum
por que nada muda o sentimento de não pertencer
vício de não ser
preguiça de viver
medo de se ver
completa de querer.
E, ainda assim tudo perder...