Ele olhou bem no fundo dos olhos dela. Estava deitada, esperava, sem receios. A hora naquele dia enganou os dois, haviam perdido o caminho, esquecido o que faziam, e assim retornaram para o começo que implorava por um fim. Ele fingia segurança, conferiu(o) calmamente, qual a profundidade do medo e segurando na ponta dos dedos, levou para dentro a certeza sem futuro, ou melhor, de um outro futuro (não mais que um broto de feijão, só que branco). Ele disse que era capaz de desejá-la naquele instante, ele disse: Ela disse: amo você. "Doeu?" Não, está tudo bem. Seguiram para casa, agora, os dois esperavam, e, a música era "cantada" no rádio, como transmutação. Conversavam. O assunto era o mesmo de sempre, algo relacionado ao trabalho dele, aos direitos sobre o corpo, à liberdade de decidir, ao que a música queria dizer, ao que o livro disse, coisas sem conexão. Ela tentava esconder um sorriso de vaidade, a preocupação e o cuidado que ele doava, tiravam dela um sentimento de soberba, porque nada possuía. Não importava as dores e os espasmos, nem o medo, que ainda não existia, precisava ser inventado.Logo, coágulos e choros noturnos, acompanhados de alguém. Palavra sentida: esfacelar-se. Ele insistia em "vazio". Discordavam, no entanto. Sol, comemoração pela manhã. Algum tempo para cicatrizar, não cicatrizou. Naquele final de semana não se(nos) beija(mos)ram, lembro, um, único beijo... gelado, doce, inesquicível. Quando uma semana depois, ela, apareceu deitada na maca toda azulada, mas viva, ele surpreso disse: "você está sorrindo", mais parece uma santa. Ela não disse: não amo você.clara maré
domingo, 3 de maio de 2009
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eu não sonhei, sonhei.