sábado, 26 de fevereiro de 2011

 (colar pra olhar estrelas. desenho, dani)


o choro de raiva (...)
as mãos segurando o próprio corpo
o próprio

aquele sono que vem antes da noite
a não ver estrelas

- hoje estende a garganta
a olhar estrelas

depois, saia correndo pra nunca mais.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011


a única coisa é que não te peço nada

nem música toca
quando fecho os olhos

e os ouvidos não alcançam
o cansaço dos pés

as folhas

 a carne treme o vício do dia,

as sobras dos dias.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

sonhei com a Adélia Prado,
seus cabelos,
ela cantava os poemas como se fossem histórias  pra dormir
e tinha um homem, alto, parado na porta de casa,
bem na passagem
com uma jovialidade do pra sempre.


ps. este sonho me lembrou que daqui 7 dias faço 35 anos.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

orvalho de todos nós, me molhe, por favor

as formigas escorrem
 das mãos do homem grávido, da mulher,
andante da madrugada, orvalho de todos nós,
condenado ao vômito do menino,
as folhas no banco do jardim
à mão do homem, das folhas secas que nascem do vento,
na secura do sorriso vaginal da mulher condenada a andar
condenada ao filho 
das formigas 
nascidas nas mãos dos homens
grávidos de madrugada
grávidos de crepúsculos,
em círculos 


grávidos dos pés, que andam,
mas não sonham mais
.


que limpam folhas nos bancos perdidos 
aonde o menino vomita

 bagunça de mundo:
um corredor pra você não me olhar

é fácil - escreva esta história, faça um filme, use uma gramática virgem vestida de noiva 
de branco, laranjeiras,
:
6 pessoas que se visitam no sábado de manhã (...)
em segundos: vomitam, choram, e fazem um filho que não existe.
pela lógica o tempo da visita vai determinar o quanto a mulher é fértil
e a cicatriz na garganta vai morar aqui em casa, junto à violeta e ao orvalho, de todos nós.


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

não, eu não sei:

se você pudesse dizer
o que diria

não, eu não sinto o quanto tem
guardado daquilo que diria se pudesse dizer

não. eu não sei quem é

não, eu não me pergunto,
lógico,
falta um pouco de medo

sim. faz duas décadas que não durmo

e se há um peso na minha consciência
minhas olheiras responderão por isso
o menino não tem nome -
 nenhuma certeza

e eu?, bem, eu não sei fazer perguntas

porque ele tem na existência o tamanho do medo

na ausência do pensamento
os kilos da consciência

e a fragilidade na minha superfície

sábado, 5 de fevereiro de 2011




não deve ser difícil
escrever um verso

 igual uma dança que cabe nos pés
ou uma música que se encaixe nos ouvidos

de uma palavra no áspero da língua

no limiar do corpo imenso que cabe duas almas
e um instante

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

desculpe, eu te faltei sábado. não suporto a grama irregular do pátio do hospital psiquiátrico. e as cores daquelas bolsinhas coloridas que lembram embornal, atravessados nos homens, balançando quando descem a  rampa. acho que eles parecem meninos assim.  me senti mal vendo os olhos batidos de sangue daquele rapaz. também aquele homem beijando aquela mulher no escondido da lavanderia, sem dentes.

sou frágil, Ana.

aquela porta azul de ferro que se fecha quando o tempo acaba me alivia. volto pra casa e tenho ideias sobre o futuro, minha vida.

quero esquecer a loucura que ronda
quero estar no mundo
ouvir tudo como é
enxergar
ser mãe do meu filho.

ah, a propósito, Ela é linda. o sorriso mais largo que vi nos últimos tempos

(...) mas  a  médica disse: não há internação "pura".

penso em ter mais flores por aqui. bem próximo à janela. ainda que bata pouco sol. quando penso isso sinto o mesmo algo que não sei explicar, vem imagens, não palavras, e palavras que não absorvem as imagens.
sinto, de  quando esperava na fila pra te vistar. quando conversei com uma mãe, na fila, a certeza do inexorável, um suave inexorável que  não sei dizer.