domingo, 28 de fevereiro de 2010

frida


cercas frágeis
me tiram o ar.
Dois lados (eu).
Sou você.
e quase chego a mim.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

aos cuidados de um senhor que desconheço

Faça o quiser com meu nome,
Suje,
Jogue no lixo,
use-o no banheiro,
Envolva-o nas suas tramas mentais,
Queime na fogueira,
Grite na tribuna,
limpe o seu com o meu.
mas não aborte as minhas ideias,
respeite...
a minha história.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

tristeza

Com as mãos jogou o pó de todos os seus sonhos,
acreditados,
esperançados,
na terra de azaléias.
O vento alecrim esparramou sua dor.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

o erro...
E o seu erro, não sabia, mas o encaminhava por outros campos e revelava coisas que ainda não entendia. Ou melhor, entendia sem propósito. Se ocupava muito com a dor dos que o cercavam, e dos ouvidos que machucava, quando seus dedos escorregavam em notas mal tocadas. Notas que suavam um som, e mesmo que não fosse em perfeição, também era música. Uma música errada, desaprendida, era o que conseguia ver, no entanto era a sua música, diária, construindoo. E em improviso trabalhava com o som que era capaz de fazer, e não porque era processo, o erro era importante por ser um fim, música mal executada a criar: so-mente.
o quanto te amo...
E imaginar futuros seria jogar-se frente ao verbo em desuso. Será. Fará. Certo. A vida enquanto um parágrafo. Do tamanho de um. Não mais nem menos consistente no meio de uma obra qualquer. Em frases longas que expressem sentidos unívoco. O sentido do querer, a empurrá-la em direções e coerências, o qual caberá apenas em um único parágrafo. Viver em apenas um parágrafo. Esse era o sentido de futuro...
sua presença...
Um delírio é a realidade em metáforas. 'Uma música para você acordar e dormir.'
a joaninha...
E pernas também, porque joaninhas têm pernas. Embora agora não fosse mais uma joaninha, mas a idéia de uma que um dia existiu para alguém. Fora. Esse tempo-verbo era algo distante dela. Tanto que uma vez tentou se expressar através dele, do tempo deste verbo., Apagou tudo no final. Este tempo não estava dentro dela. Mas o tempo existe porque possui o verbo. O verbo da o tom da existência do tempo. Me pareceu que o tempo era prisioneiro do verbo assim como a joaninha que estava marcada nas páginas deste livro com uma história que ‘fora’ de alguém. A vida dela agora dependia dos acontecimentos já escritos. Em um verbo que prendia o tempo. E em um tempo que não existia sem um verbo.
Chorou a vida. (...)
:parceria musical. felipe.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Eu gosto quando os dedos raspam nas cordas,
Você disse: “em todo canto há.”
Pensei no meu canto, quietinha.
Mas sou desafinada.
Analfabeta em letra e lógica de música.
Só cantei impressões.
Pensei que pudessem existir perfeições.
Só há ilusões.,
E a procura de um canto meu.
Como disse: em todo canto há.
Um canto meu.






hoje 35















terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cláusula de direito ao choro

Passou à tarde no tribunal. Assunto: dissídio. Algumas questões relevantes, as pesquisas recentes apontam insatisfação das trabalhadoras, 70% das trabalhadoras, do estimado setor, estão tristes e insatisfeitas. Cláusula: o direito ao choro compulsivo durante o labor, podendo este ocorrer ao desempenhar ou não a função, na hora que estiver ou não em reunião com seus superiores hierárquicos, dentro ou fora do banheiro. O tribunal de alguma vara em alguma determinada instância, com seus dezesseis desembargadores tocados, quero dizer togados, decidem irrelevante a proposta, motivo: emenda 45. Ah, para, você está inventando para ter motivos para contar uma história. Tudo bem, de fato esta cláusula não existe. Mas mesmo assim quero fazer um exercício para defendê-la. E para isso partirei dos argumentos contrários selecionados por mim, a chorona, nas ruas. Antes, por analogia, vou aproveitar o que um desembargador disse, e isso eu ouvi com estes ouvidos que a terra irá comer, ao recusar uma cláusula sobre estabilidade à mulher vítima de violência doméstica., ele utilizou o seguinte argumento:, “agora as mulheres apanharão mais para conseguirem estabilidade no emprego de até dois anos.”, seu voto foi contrário. Seguindo a mesma lógica, as mulheres chorarão mais pra terem mais pausas durante o desempenho das suas funções. Quanto a isso eu não tenha nada a dizer considerando que não sei usar as vírgulas corretamente para elaborar a cláusula, mesmo porque não posso falar na, como chama?, onde advogado defende a sua tese frente ao colegiado, que independente de qualquer coisa não pode julgar um dissídio caso o outro lado da relação, ou melhor, o patronal, não aceite o próprio. Como?, é, eu não consigo entender também. Parece que na justiça do trabalho neste país, para um lado entrar com um pedido para que a “justiça” julgue suas não-negociações, têm que haver um consenso entre ambas as partes. Bom, como deus existe, e, neste caso, anda acompanhado de mais 15, sobre este argumento eu não elaborarei nada em contrário. Tenho medo justiça divina.
Mas, seu João da padaria, quando comentei sobre o pedido, me deu uma luz. Revoltado me disse: (gargalhando) “nós homens também temos esse direito, não é justo que seja somente para vocês.” Mas seu João homem não chora, não é?, Ah... vamos unir forças,.... Portanto, queremos e não abrimos mão de um parágrafo, graças à contribuição de seu João, deixando claro que os homens também, caso insatisfeitos, possam utilizar o direito ao choro compulsivo, desde que isso não comprometa o desempenho de suas atribuições.
Não sei, agora tive a impressão que talvez não chegue a lugar nenhum. Recorri às trabalhadoras. Que depressivas preferem não participar da assembléia. Bom, argumentei que talvez se transferíssemos esse direito para as horas de descanso em casa, claro, com a convenção 156 da OIT, ainda não ratificada aqui, devidamente citada, quem sabe poderíamos obter sucesso. Seria um começo, através da divisão das tarefas do lar, um tempinho, para um choro compulsivo, sem é claro que a criança visse, considerando os danos e traumas que uma criança poderia sofrer caso visse sua mãe chorar todos os dias na mesma hora, compulsivamente.
Graças ao bom deus meu dia acabou. Volto para casa, cansada. E insatisfeita, sem resolver, nem exercitar, coisa alguma. Nem ao menos resolvo o mistério do uso das vírgulas, que de fato podem me causar muitos problemas futuros. Dou de cara com o louco do prédio, seu José, que me cumprimenta assim: “querida, o que você irá fazer da vida quando a violência contra(-)mulher não for mais um problema?”
Não sei:
Talvez eu faça uma agenda da felicidade;
Ou escolha uma música pra cantar;
Ou quem sabe corte meus pulsos;
por Hora estou tentando reapreender a chorar...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

ii

Na noite calma passou um estrela cadente.

"Faz um pedido, amor...Já fez?"

"Já"


(felipe)

i

Olha esta flor-de-mato, amor... Assopra também.

..."Ela é mágica."

Te trouxe pra mim...

(dani)

sábado, 20 de fevereiro de 2010

re-resposta

querido amigo,

Hoje acordei às seis da manhã. O céu estava azulzinho, e as notas musicais ainda penduradas nos fios que cortam a cidade. E o Folk é só uma ideia. Ah... Plantaram flores novas na minha janela: azaléias. Mas ainda não temos o lago. Nem o precipício. Não tenha medo.

Com carinho
Catarina

p.s: é o Canadá. Da etnografia, do gelo, dos livros, e das máscaras. Na época eu lia: “Irving Goffman, Manicômios, prisões e conventos.”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O link do seu nome não tem caminho. Não, não tem. Ela buscou nas próprias mãos o coração pulsando, ensangüentado, num movimento sem alma. Não sentiu nada. E entregou a ele. Aqui, olha, pegue, não tenha medo. Ele olhou comum, nem se apercebeu do sangue, pegou nas mãos, levou à boca. E comeu pedaços, sem fé, nem razão., sem medo de ter falta mais tarde. Só comeu. Matou a fome.
tem tanta gente aqui. escrevo com barulho. todos gritam,. hoje deu silêncio, não escrevi. talvez não acorde mais assim, talvez acorde. os acordes. os silêncios que me descansam, como é bom sentir. ontem não teve palavras, a tarde acordou o silêncio. não busco imagens, porque me acho pouco pra elas, ainda...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Querido amigo,







Comecei a ler a reescrita do 1º cap. da sua obra poética. Resolvi te escrever antes porque fiquei emocionada com os versos e com o visual da etnografica, não me contive. A ideia de 'prateleira' como metáfora de memórias fez pensar na tentativa de materializar coisas (sobras do mundo) interiorizadas, através dos versos. Emociona. Você dá uma licencinha para minha leiguice, tá?...


Pensei, amigo, ao ler, que a principal métafora era o interior dele descrito com a matéria da cidade.... um 'próprio índice'. Organizar as memórias em prateleira e índice lembrou museu, biblioteca, essas coisas, coisas minhas - para poder olhá-las de fora, como exercício poético de vida.


'de linhas elegantes, mas grão áspero;' - parece que descreve uma 'pessoa' aspectos da personalidade...


quando li: 'o combogó', chorei - lembrei de feixes de luz passando por uma mente (interior, sei lá) que se entende tijolo rústico. Depois pensei na recomendação que fez logo no início sobre os 'deslocamentos' - como se reforçasse a identidade porque estava distante...E aí o olhar do outro sobre nós:


Desculpe a doidera...

mas amei viajar nos versos em prosa sociológica que fez -,


Também lerei bem lentaminhamente, apesar de não ser.


bjo


laura



ps: sonhei, eu sem querer li nas suas palavras, "laura, vou ser pai!! -", desculpe foi um erro de interpretação.
Eu te odeio todo dia mais um pouco no vazio da sombra cheia de paisagem da fresta entre o céu e o mar que toca sem movimento meu olho em direção do nada.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Cenas de um fevereiro, e o final da novela o "Rei do Gado."

Bom, resolvi voltar. Acho que passarei um tempo aqui, gosto daqui. Às vezes leio poesias aflitas que querem sair de livros. Ou em. Ontem sonhei, esse sonho não vou contar, e sim, aquele que dizia que o livro estava longe: pensei na geografia do Brasil, na verdade só pensei em você. É a mesma rua de sabão preto, segunda viela numa terceira casa, abre sem janela. Só uma porta. Pedro que talvez nem exista, foi José aqui, Inácio sem o g., mas a alma continuava de João, marido daquela que não falava, só filhos tinha. Um na barriga agora. Oito nas minhas contas de anotadora de aluguel. A quinta era a Daniela, mas sua cabeça de porteiro do Morumbi não o deixava lembrar o nome. Por isso eu não a esqueci. Visitei a lembrança desta família nas vésperas de um aniversário num fevereiro qualquer, fui devã. Os ônibus não chegam lá, e as aulas de geografia explicam isso, me disse Milton Santos. Nesta época me diziam não comece suas resenhas com: Rousseau diz... “Rousseau, minha querida, não disse nada”, não pega bem tanta intimidade com ele. A geografia de uma grande cidade está toda ela nas placas dos ônibus. E no tempo de sua espera. A quinta casa era de seu José, porteiro, fazedor de filhos, e respondedor de perguntas de pesquisadoras confusas, a terceira casa era de Antonia, errei. Lá tinha um gato porque afinal a geladeira existe. E o sal sobra prus dois que agora são em dez. A água na bandeja é um convite que avizinha a amizade, laços precários. Nestes por horas de atraso me perdi. O anjo que cuidava da moça desesperou-se por não me encontrar. Um anjo era negro e o outro branco com pintas azuis. Alicio era meu cuidador chegou às seis da tarde esbaforido na porta do barraco. E disse, Alicio diz: Tem uvas, dani. As uvas, neste lugar, são saborosas, mas são vendidas muito mais baratas, sempre no final do dia comia. Meu anjo que me orientava. Nas horas vagas do trabalho ele me levava pra conhecer seus lugares. Bibliotecas, igrejas, vendas, tudo o que pudesse servir para tirá-lo de lá, ou a mim. A entrevista demorava 2 horas e a conversa começava com fatos vistos na novela pra que pudéssemos produzir vínculos... Tudo em questionário fechado, aberto., Mítico, a Ana que comia Hambúrguer, era nossa orientadora doutora.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

para o menino:



Abriu o cesto de vime, o dos textos e cadernos da sua vida. Retornou um a um. Ele deixou marcadas as saídas do labirinto. Grifados o que de mim te pertence. E quem sou. o Olhar era pra dentro e os textos matéria. de pensamento. Sou eu, eu me vejo, e também os seus grifos. Posso sentir os textos que me escrevem:

"Quando penso em você
desenho balas e coração, sem pensar,

só de existir papel e lápis.

você me ama?

( ) sim ou ( ) não"







quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Eu não vou escrever hoje a quem possa endereçar. Tenho uma pilha de roupas assim: oh!, para passar. Vou passar à tarde. Não queria ser bonita, nem ter silicone, nem sair no carnaval em qualquer escola de samba, nem gosto de carnaval. Mas queria ser a Monica Veloso para sair de na playboy de calças, e/ou a Juliana Paes, também, para sair na playboy sem fotoshop. Putz, como eu queria. Sair de calças e sem fotoshop, e tem que ser: na playboy. Eu acho que eu só vou ser feliz quando eu tiver um cachorro. Limpo, claro. Juliana não ria. Carolina fui eu que escolhi o nome da "tara" por causa do filme embora não gostasse dela, ela me irritava quando ficava embaixo do sofá. Ontem aprendi a escrever em/baixo junto. O Pedro olhou pra mim e disse fazendo o símbolo da paz: embaixo junto, em cima separado. Voltando aos cachorros, Eles dão muito trabalho quando são de verdade. Então eu inventei um uma vez. Era divertido, o Pedro amou. Eu sonhei com os gatinhos, fiquei pensando: será que foi por isso que nunca terminei aquele curso sobre bruxaria e idade média. Comecei três vezes; nem um texto consegui terminar, nem aquele que falava dos gatos no telhado. Mas pra que vou ter um cachorro se nem da minha orquídea eu sei cuidar. É a dona Rosa que cuida. Ela disse que quando florir vai me ligar pra eu buscar. Eu vou colocá-la no chão da sala ao lado da bromélia, que está lá, porque não exige muitos cuidados. Bom, amanhã eu termino, vou aos afazeres, porque tenho mais o que fazer: pode ser, que volte mais tarde, para me perguntar - por que você matava os gatinhos?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

a mulher e a praga

(aquarela, pe)

Ela dorme em uma cova. Ela dorme em uma cova. Ela não dorme em uma cova. De uma cidade, no cemitério, do interior. Ela é má. Ela dorme na cova, e lembra a todos que tem gente que dorme em uma cova. Ela é bruxa. Ela está viva. E dorme na cova. Não, eu não quero falar nada, nem citar livros, nem dar lições a quem possa se interessar, nem sei fazer isso. e Ela só dorme na cova. Viva. Ela não vai jogar praga em você, embora ela saiba. Ela dorme na cova. E jogam pedras nela porque ela lembra a todos que ela dorme na cova quando ela dorme na cova.



mudanças da ortografia

mãe você me ajuda a fazer a última tarefa?
sim, amor.
eu preciso de dez palavras difíceis..
como assim?
de erros comuns..
ué, ontem você escreveu fasso, serve?
escrevi?
escreveu...
não, essa não serve. é um erro meu, não da humanidade.
eu já falei que te amo hoje, amor?...
que você acha de jibóia?
ah, bem difícil...
então: jiboia...
quer bolo de milho?
qué!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

ela dava três passos e um pulinho, e no desenho da calçada brincava de amarelinha:

eu tive 1 amor, dois namorados, e um marido. olha eles aí.: calculadinhos,

você tem paciência comigo? estou carente hoje....

Secura

Me diz do amor?
Obrigada por ficar comigo no meu aniversário. Ela nem respondeu meus correios.
Me diz o que sente?
Eu quero dormir com você, porque é meu aniversário.
Me compra uma flor..
Acho que vou sair. Eu quero fazer campo, afinal, contar histórias interessantes no bom português. E você vai ficar só?
Vou acordar comigo ainda por muito tempo. Não se esqueça de contar a sua história...
Você é mimada. Quer amor exclusivo. Já disse que estou com você, mas há lugares que vou só.
Eu estou apaixonada por você.
Ah, querida, e eu apaixonado por tudo em você que me lembra ela., Quando te vi, mesmo cego, formou um clarão de sentidos, e sua doçura me mata de saudade.
Não sou capaz de aceitar este seu amor. Sou fraca. Quero suas mãos nas minhas costas, logo de manhã. E seu bom dia na minha bochecha escorregando até a minha boca.
Transformaremos o amor em um carinho que ensurdece.
Não quero. Não sei amar. Preciso aprender, preciso aprender... o único que me amou, me do/eu...

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

engenho central, 2010
Recolhe histórias,
não pra contá-las
pra vivê-las;
inclina o corpo, apanha palavras, quase estrelas,
demora a retornar, o coração de vagar, soletra sentimentos que
vão pelo ar, se perdem no mar.
recolhe de novo, faz amor,
sem lençóis, nem dor,
alfazema na minha sala
plantada no vidro azul
retorna o meu amor,
abre o peito, e então
danço com as mãos, um vai e vem,
costurando o coração no ardor.
soletra de novo, sentidos,
e se esquecem em mim.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

“Te esqueço só pra Lembrar"

Nunca escrevi esta história, ela sempre me soube, porque não queria imprimir a ela o meu tom. E por ela ser, pra mim, maior do que eu, não quis contá-la. Quando a leio de memória choro.
Uma moça que adorava coretos e nos finais de sábado ouvia música na praça, um dia, conheceu o amor nos olhos de alguém, olhos que possuíam mãos que tocavam trompete na banda da praça. Um som rugoso que se completava com outros sons, mas só esse ela era capaz de ouvir. Nesta tarde não teve certeza de nada, nem de existir pra quem amava. Nesta história havia uma janela, e nesta época as moças ficavam nas janelas. Ela, desde então, corria para ver os passos que levavam consigo aqueles olhos verdes, não queria saber o que diziam, nem pensava em poesia, queria vê-los, como quem olha sem motivo pra uma fruta que está no pé, sem atravessá-la. O tempo passou, com as exigências que negociam amores, e num lance de azar uniu os dois, numa festa onde se dança. Dançaram, pouco falaram, e mal se tocaram. Quando chegou em casa, ainda vestida de festa, começou a bordar as peças, que serviriam pra um dia se amar. Ele foi embora pra um lugar onde pudesse encontrar algo que o transformasse em alguém merecedor daquele amor. E ela ficou lendo e relendo as cartas, todas até hoje guardadas, e cuidadas para o papel amarelar, uma amarelo tão bonito cheio de esperanças pros amores de amanhã. Quando a espera terminou, na certeza dele de ser merecedor daquele amor, foram embora os dois, prum chão de terra batida em parte vermelhão, no meio de uma cidade com outra cor. Ela conta que retirava as peças bordadas quatro vezes ao dia e nelas punha à mesa com a delicadeza de quem veste um altar e se farta das certezas que traz a fé. Na foto preto e branco ela tem flores vermelhas no cabelo para ornar com o rubro das bochechas beijadas por ele todos os dias. Mas ele foi embora desta história tão cedo, antes do tempo, e ela chorou, choveu dias e noites no seu altar. Empilhou lembranças, revirou os móveis, e esperou seu tempo chegar. Demorou, pensei eu, que talvez essa história não devesse contar, foi castigo por tanto amor, num mundo que mal consigo enxergar o mar. E, por demorar, ela começou a escrever cartas, pois agora era ela, que saía pro mundo a esperar por merecer este amor. E um dia os dois irão embora juntos para um chão de terra batida, em parte vermelhão..

sábado, 6 de fevereiro de 2010




eu não quero assim
com a certeza de um não ou
de um sim,
eu não quero assim,
sem dúvida
eu não quero assim,

sem querer,
não te quero assim
com a certeza de que irá voltar pro ninho,
passarinho.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

eu nunca transei com o bob marley, jah!

...quando o amor era uma tradução livre do seu inglês. e os meus ouvidos fluentes dançavam reggae no silêncio..
as cores que tingiam o céu pouco
 importavam.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

concordâncias de verbos no futuro

Dá um nome pra você?


Nome?

É. Para o que faz?

Não tem nome.

Claro que tem...

Ah, ontem eu cortei jornais. Notícias que não conseguia ler.

Cortou? Mas como...

Eu levantava todo dia na mesma hora. Andava até o lugar onde estavam os jornais, que esperavam já escritos. Acolhia algumas notícias, lia, mas não entendia, ainda. Então passava a tesoura e colava algumas palavras num coração aturdido de esperança.

Nossa, que isso.

Aí o tempo foi passando. E eu que lavava os banheiros, cada dia um azulejo, comecei a ler linhas e significá-las.

Antes não significavam?

Significavam, mas o significado não era compartilhado. Somente com o anjo que não sabia escrever. Nós inventamos uma língua só nossa. Como se eu fosse uma estrangeira, e nunca aprendesse a falar. A princípio achava que não conseguia compartilhar, na verdade não queria. Era o meu segredo, nosso. A melhor das ideias era a mistura, como numa música, ou num quadro, onde os sons se misturam ao silêncio, e as cores ao vazio.

Mistura?

Sim, ah..não mistura de jantar, tipo coisa que comemos com arroz e feijão. Era a mistura de pessoas pra conseguir amar. Entender. Compreender. E nós nos misturávamos, pra sentir a dor do outro, entender o pensamento. Ah, e as alegrias também, mas com isso tenho mais dificuldade.

Como um sonho?

Não, como realidade. As pessoas não eram as pessoas. Os olhos no supermercado traziam o mundo de gente em poucos olhares. Dos terroristas as lavadeiras que cantam, e todos tentavam se amar. Teríamos que inventar uma outra palavra pra esse amor.

Mas é possível Viver num mundo inventado?

Então, as crianças, trocariam de mães. Para que as mães dessem seus leites pra outras crianças, e assim, aprendessem a amar a partir de seus filhos. Era simples a ideia, como uma flor dourada, ou um mato crescido, que também tem seu lugar no jardim...

Que doideira.

E, meu filho também seria amamentado por outras mulheres, o abandono seria a regra. E por isso não existiria. Também daríamos um outro nome pra isso.

Poderiam fazer mal pra ele.

Bem e mal, Como eu faço porque o mundo está todo ele em mim.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

histórias que corrigem"(*)" textos

Ela puxou o fio de ouro num atalho de penas de dentro da barriga do pássaro-mulher.

Bordou um filtro de sonhos em forma de estrela e de tão fino o fio os olhos doíam em cinco pontas um sol suave e amarelo reinventou o amanhã.


O teto era a luz que atravessava a sua pele E o sol dos fios aquecia a casa toda ao margear as portas fechadas. Uma samambaia verde que foi dividia em três e demorou a crescer era uma sombra que nunca foi abandonada por ela mesmo quando era uma ponta de broto sem graça sem viço sem vida.

Ao acabar o bordado nos ventos de um altar observou o bastidor vazio aliás o tecido era o céu desejou juntar todos numa colcha dourada cerzida com a alma-dança que durante muito tempo protegeu do frio os dois amores.

E a noite passou bem dormida como há muito tempo não acontecia naquela lugar.


Tardou as primeiras palavras do anjo que não sabia escrever. Em respeito não leu as palavras que ele não escrevia. O silêncio de alguém é precioso. porém. cobriu os seus medos com a colcha aquecida de uma ideia de sol. E leu uma história sem preço de um homem que não existia e naquele dia da mesma noite em que todos dormiam a felicidade foi tão grande que o amor seria inventado caso soubessem.



*segundo o dicionário priberam da "língua portuguesa":
1. Emendar.

2. Censurar, reprimir, castigar.
3. Modificar, temperar, regularizar, por compensação (tratando-se dum maquinismo).

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

notícias que eu não li no jornal.

ela abandonou o lar. na sua segunda vez, foi pra calçada, com duas pilhas de caixas de sapatos. ficou lá abraçada a eles, vez ou outra, sorria sem motivo. foi localizada por amigos e vizinhos, que relataram ao postinho de saúde a frequência que apanhava:  na mesma hora do quinto dia-dia da semana de todo mês. este encaminhou pra a saúde mental. que por sua vez encaminhou pra a família. que por sua vez encaminhou pra seu lar. seu filho passa bem, ficou o tempo todo com o pai.

voltou. começou a usar a mesma roupa toda manhã. saia cinza e blusa cor-de-rosa rendada. sentava no mesmo banco, não lia nada, às vezes levava as caixas de sapatos para ficar do seu lado. sorria sem nada. um jovem passou, não era nem triste, nem belo, e ela começou a contar, contar, contar, contar, não sabe bem o quê?, histórias de uma pássaro que era a sua cabeça. e do ouro que levava no voo. suas mãos passavam pela cabeça e as rendas da bulsa dormiam de ajeitadas.

O sonho soube o ouro dentro da barriga de um pássaro. O seu voo-sonho sempre soube no espelho das águas no horizonte de suas penas. Plenas. E o voo, o seu voo, existia porque alguém um dia o soube. E porque o céu existia e não poderia ser voado por completo. De tão alto o ouro na barriga do pássaro quase não existia pra aqueles que não ouviam, ou viam. Logo o ouro do sonho retornou com o pássaro pra dentro da cabeça da mulher. E sua cabeça agora era pássaro, e todos, foram embora., Seu filho nasceu, e foi levado, também embora, por mulheres com cabeças de mulheres. Mulheres com as cabeças de mulheres ficam na janela, horas, e olham o voo dos pássaros. E sonham com o ouro das suas cabeças.

mas no último mês do ano anterior ao ano passado tudo mudou, vagou, na saúde mental. ainda sorria sem porquê,. começou a alternar as roupas, lindas, cada dia uma cor. e os sapatos foram guardados nas caixas que por sua vez foram pro armário. e não foi mais vista no banco. o médico disse: "ela só sonhou, porque a realidade estava difícil demais"...

depois de tantos por quês, o rapaz nunca mais foi visto. e ela sente saudades dele. e toda noite passa arnica, feita por seu avô, no  peito. às vezes esfrega para arrancar a dor. mas não conta, conta, conta, pra ninguém, tem medo de voltar pra saúde mental. e de ouvir de alguém que o rapaz nunca existiu.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

anexo II

(poa, janeiro de 2010)
eu vejo obstáculos. não, não é. é o chão se abrindo como céu. tecendo o caminho. parece precipício. vertigem da próxima queda. sim, todo chão se faz céu, quando pisamos, para quem sabe o amanhã incerto. está escuro aqui, meus pés são embalados por uma grama amanhecida, úmida. tecida de ontem. segure nas paredes, tem tijolos vazados, serve de apoio. meus dedos sentem a secura deles, os barros invadem meus ossos, e O sussurro do vazio me gela. tem um lugar onde as pessoas se machucam com as palavras. a ferida se abre e olha pro céu. o céu é azul e cinza. eu tenho certeza. vi naquele pedaço de fotografia que você me mostrou. estava tudo lá. a essência do céu que viu no espelho da porta de fechadura de ouro. agora eu posso dormir em paz. e sonhar com o ouro.